terça-feira, 13 de novembro de 2012

ESPOSAS SOLITÁRIAS DE MARIDOS VICIADOS EM PORNOGRAFIA

ESPOSAS SOLITÁRIAS DE MARIDOS VICIADOS EM PORNOGRAFIA
Tenho ficado impressionado pelo número cada vez maior de mulheres que se queixa de solidão, entendida aqui como solidão sexual, em virtude de seu maridos serem viciados na pornografia da Internet.

E o que causa um impacto ainda maior é saber que muitos desses maridos são cristão evangélicos, bons pais de família e profissionalmente realizados.

Num país como o Brasil, sabe-se que 95% dos homens apreciam revistas de mulheres nuas e entram em contato com algum tipo de pornografia.

Uma parte desse contingente (e aqui, o assunto não diz respeito apenas ao universo masculino, mas inclui as mulheres também) justifica a utilização dessa pornografia como uma espécie de "preliminar" para incrementar seu relacionamento sexual com o cônjuge.

No entanto, com o passar do tempo, muitos deles viciam-se nos sites e filmes pornográficos e começam a negligenciar a esposa, preferindo satisfazer suas pulsões mediante a prática da masturbação.

É óbvio que tais indivíduos estão, imaturamente, "compensando" suas frustrações; ou por não se sentirem mais atraídos pelo corpo de suas esposas (que obviamente não podem competir com atrizes pornográficas); ou, por não as amarem mais mesmo e não terem a coragem de assumir isso.

POR QUE PORNOGRAFIA E MASTURBAÇÃO CONSTITUEM IMATURIDADE?

Porque quando um homem de fato ama sua mulher, ele a deseja. Ela lhe basta e lhe satisfaz sexualmente. O sexo que ele faz com ela é prazeroso, tendo ela um corpinho de "miss" ou estrias e celulite.

Seu amor não está condicionado apenas à estética, mas vai muito mais além, incluindo amizade, companheirismo e cuidado pela satisfação de suas necessidades.

Quando isso não ocorre e há a necessidade compulsiva de de fantasias, masturbação e pornografia, esse homem é imaturo, encontra-se sexualmente regredido e, embora possa ser maduro nos negócios ou nas decisões de trabalho; sexualmente, parte de seu seu caráter está ainda infantilizada.

QUAL É A SAÍDA, ENTÃO?

Sem dúvida, em primeiro lugar, uma conversa franca e honesta entre os parceiros,
na qual, sem hipocrisias e sem ofensas tudo deve ser dito: as frustrações confessadas, os descontentamento esclarecidos, os gostos e preferências compartilhados e as fraquezas trazidas à luz. Isso, em geral, costuma surtir efeito.

Caso o problema persista, o passo seguinte seria obter a ajuda de um conselheiro idôneo e competente ou mesmo a procura por uma psicoterapia de casal que, em muito casos, é realmente a solução ideal para reconduzir as coisas aos trilhos.

Finalmente, se ficar evidente que a causa do problema é o amor que se acabou; por mais contundente que isso possa parecer, a solução seria mesmo a separação formal, pois a infidelidade maior, em tal circunstância, seria carregar sobre as próprias costas e colocar sobre as costas do outro o jugo de uma convivência estéril e sem amor.

A indisciplina infantil e o TDAH

 A indisciplina infantil e o TDAH (transtorno do déficit de atenção/hiperatividade)

Resumo: Atualmente muito se tem discutido a respeito de assuntos ligados a indisciplina infantil e o TDAH, muitas vezes havendo uma confusão e até mesmo tratado como se fosse a mesma coisa. É frequente crianças serem constantemente rotulados por professores, colegas, e até mesmo pelos pais de rebeldes, mal-educados, indisciplinados, burras, preguiçosas... Por apresentarem uma atenção dispersa, impulsividade, desorganização, impaciência, dificuldade de aprendizagem e de relacionamento. Comportamentos como esses, dependendo da intensidade e frequência, são característicos do transtorno do déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), popularmente conhecido como hiperatividade, classificada pela associação de Psiquiatria Americana (APA).   Um diagnóstico incorreto pode acentuar ainda mais os prejuízos causados. Diante do exposto, acredita-se ter relevante importância a identificação do TDAH através de suas sintomatologias, por estudantes e pesquisadores como objeto de estudo, a fim de sanar maiores complicações no decorrer do desenvolvimento infantil.  
Palavras-chave: Indisciplina, TDAH, Desenvolvimento infantil.

Introdução

É comum crianças possuírem comportamentos inadequados que causam a insatisfação dos pais e responsáveis. Essas crianças normalmente são vistas e rotuladas como: mal-educadas, teimosas e inquietas, na maioria das vezes esses comportamentos influenciam diretamente no convívio social e escolar da criança. Crianças com dificuldades em convívio social e escolar têm seu processo de aprendizagem comprometido por diversos fatores. Por ser a primeira etapa da vida em que é cobrado algo de forma mais rigorosa das crianças, na alfabetização é que são percebidos os desvios de comportamentos das crianças. Diante da não aprendizagem da criança, os pais e responsáveis procuram explicações para os comportamentos inadequados e se utilizam de métodos para reparar essa falha no processo, mas infelizmente na maioria das vezes os pais deixam de procurar um profissional para diagnosticar se há ou não uma patologia e para buscar a solução ou amenização dos sintomas.
Há dois motivos para que uma criança tenha baixo rendimento escolar e se comporte de forma impulsiva sem se prender a regras e normas da família e sociedade: essa criança pode ser portadora de Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade ou ser indisciplinada. O TDAH é uma patologia que se caracteriza por uma alteração no lobo frontal, causada por fatores externos ou genéticos, enquanto que a indisciplina é uma falha cometida por pais, responsáveis e educadores, que por algum motivo não conseguem submeter às crianças ás regras e normas sociais. Para que a criança não tenha seu futuro comprometido é preciso que ela seja encaminhada a um profissional que a avalie e faça um diagnostico indicando se o motivo de seu comportamento inadequado é patológico ou não (TDAH ou indisciplina). Esse diagnóstico exige muita cautela, pois os sintomas dos dois problemas são bastante semelhantes.

 O Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade-TDAH

O TDAH é um transtorno neurobiológico, resultante de uma alteração do lobo frontal esquerdo, sendo a área do cérebro que conduz o comportamento do ser humano. É também neste campo do cérebro que se cruzam sistemas neurais ligados à razão, ações, regulagem da velocidade e a quantidade de pensamentos. Essa alteração no funcionamento do cérebro é provocada pelo baixo nível de dois neurotransmissores, a dopamina e a noradrenalina; resultando numa eficiência menor de alteração mínima na ação filtrante do lobo frontal (ROHDE, 1999).
O TDAH aparece na infância e segue o indivíduo por toda a vida. Segundo Silva (2009, p. 23 apud ROGAR, 2009) “ninguém adquire TDA ao logo da vida. Quem tem o transtorno já nasceu com esse tipo de funcionamento cerebral”.
Portanto estamos diante de uma disfunção crônica inata, herdada na maioria das vezes, visto que a genética tem um papel importante nesta alteração. Todavia não se pode excluir os fatores externos que interfere na evolução do transtorno, como a nicotina de cigarro, bebidas alcoólicas consumidos pela mãe ainda gestante podem causar anormalidade na região frontal do cérebro do feto, traumas obstétricos, rubéola intra - uterino, encefalite e meningite pós - natal.
Os portadores de TDAH não têm problema de inteligência, ao contrário são inteligentes, criativos e intuitivos, porém apresentam dificuldades em administrar o tempo, fixar a atenção e dar continuidade ao que inicia, não conseguindo realizar todo seu potencial em função do transtorno que se caracteriza em três principais sintomas: desatenção, impulsividade e hiperatividade. Conforme Rogar (2009, não paginado) “a mente de um TDA funciona como um receptor de alta sensibilidade que, ao captar um pequeno sinal, reage automaticamente sem avaliar a característica do objeto gerador do estimulo”.
Desta forma observam que os TDAHs reagem a pequenos estímulos com grandes emoções, falando o que vem a mente, se os comportamentos dos TDAHs não forem compreendidos e bem administrados por eles e pelas pessoas com quem convive, poderão ocasionar diversas formas de agir assim como; agressividade, descontrole alimentar, uso de drogas, gastos demasiados etc., percebe-se então que este tipo de ação faz parte dos atos impulsivos.        
 Assim é necessário que os TDAHs aprendam a controlar ou redirecionar seus impulsos para usufruir de uma vida com qualidade. Segundo Mello (2003, não paginado) “a importância de se fazer o diagnóstico na infância se deve ao fato de que o tratamento minimizará os comprometimentos sociais, escolares e familiares [...]”.
Para identificar o transtorno deve-se consultar um médico para que seja analisado o histórico clínico, realizar avaliações de exames complementares, tais como exames de sangue, avaliação da visão e audição, exames neurológicos e de imagens para descartar diagnósticos diferenciais e em seguida seja encaminhado a um psicólogo para uma analise detalhada do caso e aplicação de testes.
Conforme a CID-10 (F90.0, perturbações da atividade e atenção) e o DSM-IV-TR(2002) para haver um diagnostico de TDAH o paciente tem de apresentar claras evidencias de prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional; os sintomas não devem ocorrer exclusivamente durante o curso de um dos transtornos invasivos do desenvolvimento; e o mesmo precisa evidenciar seis ou mais dos seguintes sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, os quais persistiram por pelo menos seis meses, em grau mal-adaptativo e inconsciente com o nível de desenvolvimento (CID-10, 2011):
a) Desatenção
  • Em geral deixar de prestar atenção a detalhes;
  • Com frequência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas;
  • Parece não ouvir quando lhe dirigem a palavra;
  • Não segue instruções e não termina seus deveres;
  • Tem dificuldade para se organizar;
  • Reluta com frequência a engajar-se em tarefas que envolva esforço mental;
  • Constantemente perde coisas necessárias para tarefas;
  • É facilmente distraído por estímulos alheio à tarefa; e.
  • Frequentemente apresenta esquecimento em atividades diárias.
b) Hiperatividade
  • Frequentemente agita as mãos e os pés ou se remexe na cadeira;
  • Em sala costuma abandonar sua cadeira ou em outras situações que exige que o mesmo permaneça sentado;
  • Constantemente corre ou escala em demasia, em situações nas quais isso é inapropriada;
  • Tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer;
  • Está todo tempo a mil, ou age como se estivesse a todo vapor; e
  • Fala demasiadamente.
c) Impulsividade
  • Precipita-se em responder perguntas, ates de seu termino;
  • Tem dificuldade para aguardar a sua vez;
  • E sempre interrompe ou se mete em assuntos de outros;
  • Alguns dos sintomas já estavam presentes antes dos sete anos de idade;
  • Os prejuízos causados pelos sintomas estão presentes em dois ou mais situações.
Tendo o diagnóstico de TDAH, deve-se começar imediatamente o tratamento, que normalmente é combinado de auxilio psicológico de fármacos. No Brasil o medicamento mais comum é a Ritalina (essa tem duração de 4 a 6 horas, e seu uso é por toda a vida); porem usa-se também o Metilfenidato, a Imipramina, a  Nortriptilina, a Bupropiona e a   Clonidina (ROHDE, 1999).
O tratamento e a medicação são partes importantes aos TDAHs, pois ajuda na concentração. Pais, professores e o próprio portador deve ser orientado com técnicas especificas para amenização do comportamento.  Cerca de 80% dos casos, a medicação ajuda os TDAHs a  reduzir, a impulsividade e a agitação (TEIXEIRA, 2006). Atualmente a terapia cognitiva comportamental é a melhor indicação para o tratamento na obtenção de bons resultados, pois ela trabalha com a psicoeducação dos pacientes e dos que os rodeiam. Os TDHs aprendem sobre seu transtorno e assim conhecem métodos e técnicas para lidarem melhor com sua impulsividade e com os demais sintomas.
 É de suma importância que os profissionais pedagogos conheçam técnicas que venha a auxiliar os alunos com TDAH a ter um melhor desempenho em sala; e alguns casos em especial é necessário ensinar técnicas específicas para minimizar as suas dificuldades, pois se o transtorno não for diagnosticado e tratado corretamente ainda na infância pode gerar significantes danos na vida do indivíduo  como na vida profissional, social, pessoal e afetiva, podendo ocasionar co-morbidades como: ansiedade generalizada, pânico, fobia, depressão, etc.

A Indisciplina

A palavra disciplina relaciona-se com o vocábulo “discípulo”, “aluno”. É mostrar os confins entre certo e errado, os valores os limites; desta forma indisciplina vem de desobediência, desordem e rebelião. Essas faltas de limites competem às fronteiras que demarcam o que é permitido fazer ou não; obsecrado pelos pais. “Portanto, cada vez que os pais aceitam uma contrariedade, um desrespeito, umas quebras de limites, estão fazendo com que seus filhos não compreendam e rompam o limite natural para seu comportamento em família e em sociedade” (TIBA 1996, p. 16). 
Problemas disciplinares aparecem em casos de um contexto familiar desestruturado onde não há imposição de limites ou regras, surge também em momentos de conflitos familiares ou ainda pelo fato da criança não conseguir lidar com determinadas situações. “As crianças aprendem a comportar-se em sociedade ao conviver com outras pessoas, principalmente com os próprios pais. A maioria dos comportamentos infantis é aprendida por meio da imitação, da experimentação e da invenção” (TIBA 1996, p. 15). Portanto se em casa ela tem bons exemplos ela terá um bom convívio com a sociedade, mas caso essa criança sentir-se “excluído” de alguma forma pela família, ela poderá se adequar à atitude indisciplinada, como forma de chamar a atenção dos demais.
Em situação cujos pais são separados; os mesmos costumam depositar um no outro a responsabilidade de educar os próprios filhos, gerando complicações diversas na personalidade da criança, que nem sempre é atendida, convenientemente, as carências da mesma; acarretando na colaboração de um comportamento rebelde, devido aos atos tratados, desrespeitosamente frente a estes, com brigas infindáveis, ódios, disputas judiciais, desejo de vingança, etc.
Por conta dessa atitude irresponsável, a televisão assumiu na atualidade o papel de companheira e educadora de muitas de nossas crianças e jovens, que passam mais tempo assistindo a programas sem nenhum conteúdo moral e quase sempre recheados de pornografia e violências, do que em sala de aula ou com atividades úteis à formação de seu caráter como membro ativo da nossa sociedade (Rebouças, 2004).
Crianças com problemas de disciplina tendem a ter comportamentos irritantes, agressivos, de mau humor, impulsivo, entre outros, comportamentos esses que fazem a sociedade rotulá-las como indisciplinados. Outros motivos que podem levar a essa indisciplina infantil é a instabilidade e sofrimento emocional. TIBA (1996) conclui que filhos precisam de pais para ser educados, alunos precisam de professores para ser ensinados. “Sem a educação dada pelos pais à criança não cumpre o seu dever como aluno. Como aprender sem ser educado para isso?” (Oliveira, Ricardo Augusto A de.).Não se pode esperar, o desejo de querer estudar chegar. Pois tal espera pode ser interminável e aterrorizante para os estudantes. 
Se a escola não apresenta um espaço motivacional ou não contribui para o desempenho escolar do aluno, e ele não encontra nem mesmo em si ou na família, estímulos e dedicação para o aprendizado; em sala será transposta as causas do seu insucesso e da sua inadaptação. Sendo que consequentemente se manifesta na forma de atos indisciplinares, como meio de escapar da sua realidade e inobservância das regras de hierarquia ainda não adquiridas pelo aluno. “Em contrapartida o professor, cuja função é orientar o processo de aprendizagem não pode se ocupar de um papel que não é seu. Até porque o trabalho realizado por ele não surtirá efeito se em casa os hábitos de educação não mudarem” (OLIVEIRA, 2010, não paginado).
Cabe aos responsáveis da instituição educacional, a escola, usar métodos como: advertência; encaminhamento aos pais ou responsáveis, mediante termo de responsabilidade; orientação e apoio, acompanhamento temporários, matrícula e frequência obrigatórias. Já os pais devem tomar medidas que favoreça a autonomia, sendo, inclusão em programa comunitário ou oficial de auxilio e orientação, à família, a criança e ao adolescente e requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico. “Observa-se então que a culpa da indisciplina escolar é múltipla e não pode ser atribuída apenas à família, mas a todo um conjunto de fatores, em especial a crise ética na sociedade neoliberal que vivemos”(OLIVEIRA, 2010).

Metodologia

Compôs o estudo 29 crianças de ambos os sexos, com idade entre 06 a 12 anos inseridas no ensino de 1ª a 4ª serie, de duas instituições. Para a obtenção dos dados, contamos com o auxilio de profissionais da Pedagogia, sendo 11 ao todo; os mesmos avaliaram seus alunos conforme os itens do questionário que compõe a Escala. A pesquisa ocorreu no município de Rolim de Moura nas instituições Priscila Rodrigues Chagas e Aluízio Pinheiro Ferreira.
O teste aplicado compete à Escala de Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, versão para professores; este consiste em um inquérito de questões fechadas, com alternativa de resposta de múltipla escolha, sendo: Discordo Totalmente (DT), Discordo (D), Discordo Parcialmente (DP), Concordo Parcialmente (CP), Concordo (C) e Concordo Totalmente (CT); elaborado em sua primeira versão com 58 itens, porem com a padronização denota apenas 49 itens, divididos em quatro partes, sendo, a primeira respondente à área de déficit de atenção, a qual contem 10 itens negativos (sabe trabalhar independentemente) e 06 positivos (se distrai facilmente por barulhos em sala de aula); a segunda parte compete a hiperatividade/compulsividade que contem 09 respostas positivas (mexe-se e contorce-se na carteira) e 03 negativas (parece uma criança tranquila); a terceira parte refere-se aos problemas de aprendizagem com 06 itens positivos (não rende de acordo com o esperado em português) e 08 negativos (é rápido para fazer cálculos); e a quarta parte, compreende ao comportamento anti-social o qual aponta 04 itens positivos ( os colegas da classe o evitam) e 08 negativos (possui muitos amigos).
Primeiramente foi solicitado aos responsáveis, pelas duas escolas estaduais (os diretores), que assinassem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no qual foram explicados os motivos de nossa presença e os objetivos envolvidos. A coleta de dados se deu por meio de um questionário que compete a Escala de Transtorno de déficit de Atenção/Hiperatividade, o qual fornecemos pessoalmente aos pedagogos para que não houvesse duvidas em seu preenchimento. Os testes foram entregues nas próprias instituições de ensino. Para cada profissional da educação foram fornecidos no máximo cinco questionários de avaliação referente aos seus alunos.

Resultados e Discussão

Após a conclusão das aplicações dos testes, averiguamos as frequências e porcentagens de respostas nas quatro partes dos questionários respondidos pelos participantes da pesquisa envolvida  - os professores, como constam as Tabelas I e II.
De acordo com os dados puderam ser evidenciadas grandes porcentagens afirmativas em relação às questões estudadas na pesquisa, sendo que em todas as questões os sujeitos da amostra apresentaram maiores porcentagens positivas de dificuldade e desatenção do que TDAH como consta a Tabela de classificação dos pressentis no manual da Escala de Déficit de Atenção/Hiperatividade.

Tabela I. Itens positivos ao TDAH.
     
Áreas Nº de Sujeitos Percentil
Déficit de Atenção 24 76% a 99%
Hiperat./Comp 13 76% a 99%
Problem. de Aprend 23 76% a 99%
Comp. Anti-Social 18 76% a 99%

Tabela II. Itens negativos ao TDAH
Áreas
Nº de Sujeitos
Percentil
Déficit de Atenção
05
25% a 75%
Hiperat./Comp
16
25% a 75%
Problem. de Aprend
06
25% a 75%
Comp. Anti-Social
11
25% a 75%
Com os dados adquiridos referentes aos 29 candidatos que propusemos a analisar,  na tentativa de conhecer as atitudes destes  implicados, como sendo TDAHs ou Indisciplinados, diante da visão dos professores e que fogem das condutas normais comparadas, às demais crianças de sua faixa etária. 24 dos mesmos apresentaram requisitos de Déficit de Atenção resultantes em comprometimentos, pois 21 dos participantes evidenciam um percentil variante de 76 a 94%, acarretando em um quadro acima da expectativa, ou seja, elas encontram-se com mais problemas que a maioria das crianças, sendo que 03 crianças atingiram o percentil equivalente ao de 95%, revelando um possível transtorno.
 Assim, foi verificado que a maioria da amostra se prontificou, a favor do excesso de crianças agitadas em sala, conferente a indisciplina e a hiperatividade, sendo que quase todas as questões de TDA apresentaram em altas porcentagens de respostas afirmativas. Na área de hiperatividade/compulsividade, contivemos 13 crianças que persistiram acima da expectativa esperada; o equivalente a 9 das crianças, sujeitou-se a um percentil de 76 a 94%, interpretando assim, essas incidem a uma problemática que as diferem das outras crianças, 04 se encontram em um quadro severo de Hiperatividade/Impulsividade. Nesse sentido, a questão que dizia respeito a se avaliar a patologia não apresentou maiores porcentagens de respostas afirmativas, seguida pela questão relacionada a identificá-la. Nesse contexto, os resultados da pesquisa vêm a ser supérfluo, pois não tem como rotular as crianças como sendo portadoras do TDAH, já que o teste foi realizado apena com os professores, mais conforme a escala pode se dizer que as crianças que contiveram alta nos pressentis, apresentam-se no momento sintomas que merecem ser acompanhados por um especialista. Já aludindo Problemas de Aprendizagem observados; 23 dos sujeitos sobressaíram a media da escala, visto que 19% estão acima da expectativa e 04% emergiram a probabilidade de Transtorno.
Quanto ao fator Comportamento Anti-Social, 18 dos analisados encontram-se com percentil entre 76 a 94%, os quais 13 conferem acima do esperado e 5 alude a um severo Comportamento Anti-Social, com gradativa possibilidade de transtorno.
A presente pesquisa corrobora os achados de antes divulgados como projeto, o qual se conclui o alto grau de indisciplina na infância, que nada mais é que a falta de limites estabelecidos pelos pais, os quais não se sentem na obrigação de educá-los e depositam esta imensa tarefa em terceiros como os professores, por exemplo. Neste contexto o auxilio dos profissionais pedagógicos, fora mais que importante. Segundo Rebouça (2004) “a formação moral é normalmente relegada a segundo plano ou transferida para a escola, como se a escola tivesse a capacidade de substituir o papel de nós pais, na formação moral de nossos filhos [...]”.

Conclusão

Com base nos estudos realizados percebe-se o quando é importante uma diferenciação rápida e eficaz entre a indisciplina e a patologia TDAH, um diagnostico correto é fundamental para o desenvolvimento social, cognitivo e afetivo da criança, uma vez que o não tratamento correto pode vir a comprometer gravemente o dia-a-dia da criança em ambos os casos.
Assim é relevante a participação da família como apoio aos profissionais que tomaram a frente de um diagnostico e posteriormente o inicio de um tratamento adequado. Para que se possa afirmar que uma criança é portadora ou não de TDAH é preciso que seja feita uma investigação detalhada sobre os diversos ângulos da vida do paciente e também que sejam aplicados testes, o mais indicado e utilizado por nós foi a Escala de Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade, porém com testes isolados não se pode simplesmente diagnosticar os alunos os quais apresentaram altos pressentis, pois mesmo sendo um teste preciso, a Escala de Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade, necessita de mais suportes para se diagnosticar, ou seja, é essencial a utilização de outros testes como o WISC, COLUMBIA, SNAP-IV, e a própria Anamnese, pois essa forneceria informações adequadas sobre o convívio das crianças, e uma identificação para a distinção da indisciplina mais verídica.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

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A Sexualidade na Escola: A homossexualidade



1. Introdução
O tema Homossexualidade, mesmo tão presente na contemporaneidade, ainda é um assunto de grande repercussão, geralmente considerado como “tabu”, principalmente quando abordado dentro de uma família tradicional, como exemplo, um programa humorístico da televisão brasileira que retrata a culpabilidade de um pai ao ver seu filho “desmunhecar” frente a situações sociais com o bordão: “Mas, onde foi que eu errei?!!”, demonstrando claramente essa escandalização da temática.
Relacionar-se com um parceiro do mesmo sexo é uma ocorrência relativamente comum no mundo através dos tempos, porém, ainda com a presença de indivíduos homossexuais e bissexuais na história da humanidade o tema continua trazendo muitas controvérsias na modernidade e contraditoriamente em uma sociedade que se nomeia tão “liberal”, colidindo com dogmas morais e religiosos, influenciados por ignorância e contrastando com intuitos políticos.
A discussão acerca da homossexualidade dentro de comunidades de estudiosos ainda é muito acirrada, pelo fato da ciência ainda não ser suficientemente capaz de determinar sua causalidade. “Seria a homossexualidade predominantemente um fator de cunho ambiental?”; “Seria ela, puramente genética, sendo assim, onde está o tal `x colorido´?” ; “Ou talvez, um conjunto de fatores, misturando o meio, a biologia e a cultura, formando uma multicausalidade?”  Bem, estas respostas são o que milhares de estudiosos das mais diversas linhas da psiquiatria, psicologia, biologia, medicina geral, neurociências, sociologia e antropologia desejam poder responder um dia. Até então é muito dito que se trata de um aspecto da condição humana que acarreta profundos efeitos sobre a vida de um sujeito e da comunidade em si.

1.1 O Que é Homossexualidade?

A sexualidade envolve o comportamento, ato sexual, noções de gênero (feminino e masculino), dentre outros. O ser humano moderno vive em uma sociedade que não possui o costume de enxergar o sexo como algo natural do ser vivo e de cada indivíduo em particular. Existe a ideologia de que “deve-se ser igual/normal”, sendo assim qualquer diferença é mantida em segredo, causando uma angustia ao individuo (PICAZIO, 1998).
É preciso entender o que de fato seria um problema em si e o que é designado como problema pela sociedade, uma vez que o desejo não causa dor, a problemática no caso seria a sociedade que não aceita seus diferentes membros, pois cada um tem sua combinação de sexualidade e buscam-se diferentes modos de relacionamento. O melhor caminho é a aceitação para se obter uma vida melhor em uma sociedade civilizada (PICAZIO, 1998).
As possibilidades são diversas e não é conveniente, em um tempo com preceitos tão liberais, julgar o que é certo ou errado. A sociedade contemporânea está passando por grandes transformações, onde, por exemplo, algumas questões consideradas anteriormente como eternas, hoje já se modificaram e continuam se modificando (PICAZIO, 1998).
Freud, grande estudioso dos processos subjetivos da mente e pai da psicanálise, no início do séc. XX apontou algumas possíveis causas da homossexualidade determinando, basicamente três fatores causais: a forte ligação com a mãe, a fixação na fase narcísica e o complexo de castração.
“No primeiro, o homossexualismo teria início devido a uma forte e incomum fixação com a mãe o que impediria essa pessoa de se ligar a outra mulher. O segundo fator, o narcisismo, faz com que a pessoa tenha menos trabalho em se ligar ao seu igual que em outro sexo. A estagnação na fase narcísica faria com que "o amor fosse para eles sempre condicionado por um orgão genital semelhante ao deles" (Ferenczi). O terceiro fator, aponta problemas relativos à travessia da castração, isto é, sofrimentos relativos as perdas e a idéia de morte que deixariam a pessoa acomodada ou acovardada na sua psicossexualidade” (LIMA, 2001).
Um esclarecimento importante a se ressaltar é a confusão de terminologias quanto a referencia ao homossexual. O termo Homossexualismo, que podia ser visto antigamente até mesmo em um manual importante para consultas de profissionais da área médica como o CID-9 (Código Internacional de Doenças), admitia que o indivíduo homossexual possuía um transtorno mental e, portanto, era “doente”. O sufixo “ismo” da palavra traz um significado “patológico/doença”. O “Homossexualismo” estava incluído dentro do capítulo V: Transtornos Mentais, com o código 302.0, mas nos últimos anos, com a explosão de grupos denominados “gays” crescendo não apenas no Brasil como no mundo, houve a necessidade de não somente adequar o manual, como em suas revisões, modificar a forma que o assunto era abordado.
Freud cita acima o termo “homossexualismo”, muito provavelmente por ter como formação a medicina, e em sua época esta nomenclatura e ideologia patológica fosse a aceita em termos de comunidade médica.
É preciso lembrar, por outro lado, que o CID não é somente uma classificação de doenças, lesões e causas de morte, em suas últimas revisões, passou a ser utilizado como instrumento para codificar motivos de consultas em serviços de atendimento médico, passando  então a incluir várias entidades que não são doenças, lesões ou causas de morte (LAURENTI, 1984).
A partir de tantas discussões causais, com constantes questionamentos se “é doença?”, e com o imenso crescimento de grupos de homossexuais lutando por suas identidades nas mais diversas culturas, convencionou-se então a utilização do termo “Homossexualidade” como referência ao indivíduo que possui maior afinidade psicofísicosexual por membros do mesmo sexo.
Atualmente, dentro do CID-10 , continua existindo um código para homossexualismo (F66.x1) por se tratar de um instrumento estatístico para classificar causas de morte, diagnósticos de internação hospitalar e motivos de consulta mesmo que contra isso continuem os movimentos, pressões e apoios. Este código apenas deixaria de existir quando não houvesse mais, em absolutamente nenhum lugar do mundo consultas motivadas pelo fato de ser homossexual. Da mesma maneira que o heterossexualismo agora existe no CID e será discutido quando trouxer a um indivíduo algum desconforto ou, principalmente, discriminação, o que o levará a procurar, sob diversos pretextos, um médico para orientá-lo. (LAURENTI, 1984). Vamos aguardar o CID-11 em 2014 e observar como as mudanças culturais e temporais da sociedade influenciam estes códigos e suas nomenclaturas.
Os indivíduos ainda hoje têm grandes duvidas sobre como a homossexualidade “surge”, se seria possível evitá-la ou não, se seria um desvio ou algo natural, se é algo que se passa de pessoa para pessoa. A resistência em entender a homossexualidade pode se dar pelo fato de se acreditar erroneamente que “é um desejo adquirido ou aprendido” e não apenas algo natural como a heterossexualidade, onde se sente um desejo como qualquer outra pessoa (PICAZIO, 1998).
Uma grande problemática psicológica que um adolescente ou adulto pode ter, é a constatação de ser homossexual, pois não é fácil para o indivíduo ter um desejo que não é respeitado pelos demais e um desejo que é ainda muito perseguido pela sociedade, passando por uma batalha pelo preconceito, engajando-se na luta por seus direitos. Com tantos problemas, preconceitos e julgamentos, se a homossexualidade fosse uma opção, quem a escolheria?
Ainda que se tente disfarçar a condição homossexual e os sentimentos deste indivíduo em relação aos amigos, parentes, etc não é algo fácil mentir para os outros e principalmente para si. E com isso, esses sentimentos vão causando ao individuo um sentimento de culpa, de anormalidade e assim, acabam ficando entre o viver e o medo de ser rejeitado. Porém, em muitos casos o individuo consegue desabafar e tirar esse “peso de suas costas”, dizendo tudo o que sente para família, amigos, e parentes num geral, acabando com aquele incomodo de mentir para todos em sua volta, podendo então buscar sua felicidade sem medo e ser amado por quem se é, não importando sua orientação sexual (PICAZIO, 1998).

1.2 Hipóteses sobre a Homossexualidade

Há muitas controvérsias sobre a gênese da homossexualidade, os grandes estudiosos almejam muito saber se é determinado geneticamente, se é resultado da educação ou do meio ambiente em que a pessoa é criada.
“Tudo na sexualidade está a serviço da sobrevivência dos indivíduos dos gens ou das espécies (da natureza). No humano, seguramente também. Ainda que, no humano, os caminhos da sobrevivência (no imaginário) atravessam estranhos percursos de morte e de inefabilidade. O homem é anjo e animal, digamos: não é estranho que sua sexualidade seja mistério. Desde os gens até a cultura, nos informam desses assuntos estranhos e misteriosos” (GRAÑA, 1998, p. 110).
O neurobiólogo Roges Goski (Universidade da Califórnia) fez alguns experimentos laboratoriais com hormônios masculinos (testosterona) em fêmeas e observou que desde as primeiras fases de suas vidas, esses animais tendiam para comportamentos mais masculinos (mais agressivas, além de uma maior atração por fêmeas).
O geneticista Dean Hamer (Instituto Nacional de Saúde dos EUA) garante que a  homossexualidade possui uma determinação genética, pois ele afirma ter descoberto genes em uma determinada região, apelidada por ele de GAY-1, associados à homossexualidade.  Porém, essa hipótese não possui muita credibilidade no meio científico americano. Esta é uma tese muito discutida, pois tira a homossexualidade no âmbito da escolha (e portanto opção do indivíduo e estilo de vida), trazendo-a como resultado de uma variação genética.
A  nova geração de psicólogos,  tende à valorização de relações extra-familiares, ou seja:
As relações interpessoais com vizinhos, colegas da escola e da rua, como fatores que mais pesam no desenvolvimento da personalidade, nesse sentido, meninos que se comportam segundo o estereótipo de menino (gostam de brincadeiras mais agressivas, se identificam com heróis, gostam de aventuras, ação, são menos obedientes e se encrencam na escola por má conduta mais que as meninas etc) se diferenciam delas que costumam ter um jeito mais suave e introspectivo. O "normal" nessa cultura é esperar que os meninos sintam-se atraídos pelas mulheres, mas não em ser como elas. Porém, sobram perguntas sem respostas satisfatórias. Como entender as pessoas que desde crianças sentem-se atraídas pelo estilo das meninas? Será que, só por essa tendência, fatalmente desenvolverão homossexualismo ou será apenas uma fase passageira? E as meninas que admiram mais as meninas, que são fascinadas por pessoas famosas, será que estão sendo atraídas a se tornarem homossexuais ou trata-se somente de simples admiração? (LIMA, 2001).
FERENCZI (1911;1992, p.117-130) diz que: “a criança, num certo estádio do seu desenvolvimento normal, manifesta sentimentos anfieróticos, quer dizer, ela pode transferir sua libido ao mesmo tempo para o homem (o pai) e para a mulher (a mãe)”.
Pode ser observado em diversas culturas do mundo que as pessoas podem ter atração pelo mesmo sexo e se distanciar do sexo oposto, ou seja, as amizades são mais fáceis de acontecer em grupos inteiramente masculinos ou inteiramente femininos do que em grupos mesclados.
Até o presente momento, os estudiosos no assunto, parecem concordar em um ponto: não há como determinar uma causa/ motivo para  Homossexualidade.

1.3 Panorama Sócio-Histórico

FOUCAULT (2005) faz uma análise da ciência do sexo (scientia sexualis), cujo objetivo era obter informações sobre esse aspecto do ser humano. Segundo o autor, a partir dos SEC. XVI e XVII houve uma proliferação dos discursos sobre o sexo, com o claro objetivo de se obter o controle sobre o mesmo.
No Séc. XIX , torna-se um projeto cientifico, visando produzir verdades sobre o sexo, mas claramente comprometido com o evolucionismo e o racismo oficial. Através do discurso médico, protegido pela pretensa neutralidade cientifica, o sexo passa a ser relacionado a uma “moral de assepsia com interrelação entre o patológico e o pecaminoso, associado à biologia da reprodução” . À ciência, atribuiu-se a tarefa de produzir discursos verdadeiros sobre o sexo, e isto tentando ajustar, “o antigo procedimento da confissão às regras do discurso científico.” (pg. 66). No caso da confissão, os fiéis eram incentivados a contar suas práticas e desejos sexuais, mas com o objetivo de obter controle e poder sobre aquele que confessava, já que era o representante religioso que detinha o poder de condenar ou absolver o confessor. Aos poucos , a noção do sexo ligado a patologia e ao pecado, foi se  desvinculando do discurso religioso e “emigrou para a pedagogia, para as relações entre adultos e crianças, para as relações familiares, a medicina e a psiquiatria” (pg. 67).
A ciência sexual no ocidente difere da Arte erótica existente em países orientais, que busca saber sobre o prazer, não com o intuito de produzir verdades ou domínio sobre o mesmo, mas visando ampliá-lo.  Note que enquanto no ocidente a produção de verdades sobre o sexo tinha como objetivo principal a obtenção de domínio e  “ assujeitamento”, os orientais, buscavam o prazer que pode ser obtido do sexo. Por isso, para o autor, a homossexualidade é uma forma de romper com o discurso dominante, um ato de rebeldia e não submissão aos poderes estabelecidos e legitimados. Desta forma, a homossexualidade teria um caráter transformador, desafiando regras e convenções.

2. Aspectos Teóricos

A seguir serão apresentadas algumas explanações teóricas acerca dos principais aspectos tratados neste artigo:

2.1. Sobre A Educação

A educação sempre esteve presente na humanidade. Os indígenas, por exemplo, passavam para seus filhos tudo o que era essencial para se tornarem grandes guerreiros. Existiam também certas características específicas de cada tribo que eram passadas de pai para filho, não existindo uma escola ou um educador, mas sim, a transmissão de cultura e conhecimento retransmitidos todos os dias para a tribo (BRANDÃO, 1991).
O processo de educação surge com a família, no momento em que os pais ensinam a seus filhos o que julgam ser certo e como devem ser comportar. Iniciando assim a formação da criança.
A aprendizagem é um fenômeno natural, no momento em que o bebê vem ao mundo é exposto a vários fatores de aprendizagem, alguns inatos, como a sucção, outros aprendidos culturalmente, como por exemplo, a partir da identificação de sons até a consolidação da fala com uma linguagem específica. A educação está em todo lugar, e em situações completamente diferentes umas das outras, dependendo muito da cultura de determinado povo, porém, não há um único modelo de educação, ela pode estar presente nas escolas, teatros, famílias, etc (BRANDÃO, 1983).
A escola, por exemplo, faz parte do meio de aprendizagem do indivíduo, pois assim, este é capaz de adquirir conhecimentos referentes a áreas específicas, como por exemplo, Matemática, Geografia, História, Língua Portuguesa, entre outras. Porém a escola não transmite apenas conhecimentos obtidos pela ciência, mas também educa a criança para a vida, dando continuidade ao processo da família.
O processo de aprendizagem busca desenvolver no indivíduo o interesse, a curiosidade e a motivação, para assim estimular a vontade de aprender.
Aprender significa tornar-se, sobre o organismo, uma pessoa, ou seja, realizar em cada experiência humana individual a passagem da natureza à cultura. (BRANDÃO, 2006, p. 22).
A educação forma a personalidade do indivíduo médio e o prepara para viver a cultura, é pela educação que a gênese da cultura se opera no indivíduo. Pode-se descrever a cultura mostrando como o indivíduo a assimila e como nele se constitui, à medida que ele a vai assimilando. Isto porque a educação é, ao mesmo tempo, uma instituição que o indivíduo encontra e o meio que ele tem para encontrar todas as instituições (DUFRENNE apud BRANDÃO, 2006).
A formação do adulto é um processo de aquisição pessoal de saber, crença e hábito de uma cultura; essa passagem de cultura de um sujeito para outro é denominada hoje como educação, ou seja, a educação nada mais é do que um processo contínuo que busca a transmissão de conhecimentos, uma relação de troca e de saber entre as pessoas, que visa uma melhor integração individual e social.
A educação é um processo de produção de conhecimento e qualificações que juntas constroem tipos de sociedades, onde, a educação de uma certa sociedade tem identidade própria, pois ela está estruturada de acordo com a sua cultura.

2.2. Homossexualidade na Escola

Nos tempos atuais há uma grande necessidade de repensar sobre as relações humanas, focando principalmente na homossexualidade. Mesmo não obtendo respostas dadas pela ciência ou pela psicanálise ajudam na mudança rápida e na opinião das pessoas. Antigamente a homossexualidade era encarada como algo errôneo, mal visto pela sociedade. (MIRELLA, 2009).
Segundo MIRELLA (2009), estamos em uma face de transição de opinião que vem sendo notório a todos. É comum vermos casais homossexuais em bares, restaurantes, festas, cinemas, e cada dia mais essa liberdade de escolha sexual começa a ser aceita, mostrando a mudança da sociedade.
Um dos primeiros contatos sociais que a criança e o adolescente encontram em suas vidas são as escolas, onde aprendem lógica, línguas e principalmente sobre outras culturas e sociedades. Porém, nem todos os assuntos  são abordados com afinco, como por exemplo, a  homossexualidade ainda tratado com  preconceito e  desinformação.  É comum nas escolas brincadeiras de mau gosto, maus tratos físico e/ou verbal ao individuo homossexual, podendo causar-lhe grandes danos psicológicos e morais, sem que os demais percebam e assim dando continuidade as  suas “brincadeiras”. As escolas tanto particulares quando publicas deveriam abranger mais sobre esse assunto, dando oportunidade dos alunos se aproximarem mais e de obter mais conhecimento. Normalmente as escolas particulares não dão ouvido ao aluno homossexual que esta passando por problemas na escola, causando um grande impacto na vida social desse aluno. (SANTOS, 2010).
Aprendemos a viver em sociedade e para a sociedade é na escola que o aluno conhece seus direitos e deveres, se manifesta, constrói sua própria opinião e aceita as diferenças dos outros, o professor entra como um gancho mediador de todo o conhecimento que está sendo construído e se necessário trabalha para modificá-lo. Para se trabalhar com o assunto da homossexualidade em sala de aula, observamos varias dificuldades, como o constrangimento por parte de alguns alunos , por tratar-se de um  assunto “reprimido” na sociedade, causando conflitos entre a escola e os pais, que muitas vezes desinformados, julgam a disciplina e assim criam obstáculos. (MIRELLA, 2009).
A capacitação dos professores e as ações educativas da escola, são fundamentais para favorecer o fortalecimento da educação sexual, focando principalmente nos assuntos sobre homossexualidade e lesbianismo, potencializando a possibilidade de relação humanas mais igualitárias. (MIRELLA, 2009).             

 2.3. Homofobia e a Constituição

A homossexualidade não é mais vista como doença, como desvio, como crime pela medicina e psicologia, porém a escola continua a esquivar-se de tratar esse assunto, ou quando tenta mencionar o tema, este vem carregado de preconceitos e piadas contribuindo assim para a exclusão e violência desse grupo social.
Discutir sobre a homossexualidade é um tabu nas escolas, causando diversas reações, desde surpresa, vergonha e risos a horror, desdém e desconfiança. A homofobia incomoda tanto o homossexual quanto que a reproduz.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) publicou em 2004 o estudo Juventude e Sexualidade, fruto de uma pesquisa em 14 capitais brasileiras. O levantamento indicou, entre outros tópicos, que cerca de 27% dos(as) alunos(as) não gostariam, por exemplo, de ter um(a) colega de classe homossexual, 60% dos professores(as) não sabem como abordar a questão em sala de aula e 35% dos pais e mães não apóiam que seus filhos(as) estudem no mesmo local que gays e lésbicas. (GUIA PARA EDUCADORES(AS), 2006, p.8).
A pesquisa realizada pela UNESCO já revela como a maioria das escolas lida com a homossexualidade, esta evita falar ou discutir o tema.
A homossexualidade nas escolas é muitas vezes vista como uma prática desviante, amoral, fora dos padrões aceitáveis para um processo educativo, ou simplesmente ela é silenciada, percebida, mas ignorada (ABRAMOVAY, 2004).
Dentro dessa educação homofóbica que vem acompanhada de uma falta de sensibilidade para o diferente acaba-se tendo como resultado o silencio e a dissimulação. A incapacidade de muitas escolas em estudar esse tema, diluir os preconceitos e cessar as piadas, comentários maldosos, transferências de alunos por não adequação à escola e aos padrões por ela imposta, acaba resultando em quando não é possível esconder ou silenciar a manifestação de alunos homossexuais, a homofobia atua da forma cruel e intolerante entre os alunos e com a anuência ou omissão de professores.
Outra contradição que se pode encontrar na escola é que ao mesmo tempo em que ela reproduz a homofobia negando o reconhecimento para esses sujeitos, esta se alicerça em leis e estatutos que rejeitam qualquer tipo de exclusão, desrespeito a liberdade e integridade humana. Assim, todas as escolas deveriam respeitar a Constituição Federal de 1988, que em seu artigo 5° diz o seguinte:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se a todos a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a propriedade. Ninguém será obrigado fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei. (parágrafo 2º)
III - Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento desumano ou degradante.
Também é encontrado no artigo 15 do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990):
Art. 15 – A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais, garantidos na Constituição e nas leis.
A homofobia é uma produção histórica cultural que já foi justificada nas ciências e leis, e a escola inserida nessas condições históricas as reproduz e reafirma o que a sociedade exige dela, portanto ela não é criação exclusiva da escola, é produto de toda uma produção histórica ao longo de décadas.
A homofobia acabou adquirindo explicação para ser praticada e foi banalizada pela sociedade e escola, na qual as atitudes preconceituosas chegam a ponto de tornarem-se normais.
A escola deve ser pensada como um ambiente onde valores humanos, igualdade, respeito, solidariedade e democracia sejam os pilares fundamentais, e onde também, a exploração, e qualquer forma de discriminação seja rigorosamente combatida. Um novo mundo está por nascer e, talvez ele dê seus primeiros passos na escola, para isso precisamos tomar consciência da discriminação e aos poucos desconstruirmos preconceitos, racismos, machismos e homofobias (LUCION, 2009, p.14).

3. Conclusão

De forma geral,  o assunto “Homossexualidade” é abordado na escola,  porém sem dar muita ênfase, tendo em vista que as principais questões são DST, gravidez, uso de preservativo e prevenção.
 Segundo (LUCION, 2009),a educação sexual não está voltada para a diversidade colocada, mas sim em padrões heterossexuais fixos que acabam produzindo pessoas infelizes, cercadas de culpa por serem diferentes. A sociedade de padrões brancos, masculinos, heterossexuais acaba refletida na escola que segue esses mesmos padrões transformando aqueles que não se encaixam nesse esquema em pessoas indesejáveis, passiveis de serem ridicularizadas, desprezadas, segregadas, vítimas das piores violências e ódio que assim é chamado de homofobia.
Neste momento encontra-se uma grande contradição, pois o papel da escola e dos educadores é de inclusão. Há programas de inclusão dos portadores de necessidades especiais, inclusão do ensino indígena nas aldeias, da cultura afro, dos adultos para alfabetização e, no entanto, sobre as manifestações de sexualidade a escola mantêm-se silenciosa, contribuindo muito para a pratica da homofobia.
FERNANDES (2007) analisa a relação da família com adolescentes homossexuais, mas tem seu foco no contexto escolar, uma vez que a escola é o ambiente que deve favorecer o respeito pela diversidade. Embora, na pratica as coisas não sejam bem assim, pois na escola o adolescente homossexual sofre discriminação e preconceito, e dificuldade de aceitação por parte de alunos e professores. Os amigos tendem a se afastar, pois acabam também sendo rotulados como homossexuais e sofrendo o mesmo tipo de discriminação e preconceito. Desta forma, o adolescente homossexual acaba sendo vitima de muito sofrimento, provocado pela rejeição no espaço que deveria servir como mediador e acolhedor destes jovens. Os homossexuais não são vistos como normais e produtivos, gerando um isolamento por parte do próprio sujeito, o que compromete a constituição de sua identidade, fazendo com que o mesmo ou repense sua opção sexual ou se marginalize buscando preservar sua opção . Isto se deve segundo LOURO (apud Fernandes 2007), ao fato de que as pessoas sentem a heterossexualidade ameaçada e se obrigam a  afirmá-la de todas as formas possíveis. Na escola, os alunos não são estimulados a serem solidários com seus colegas “diferentes”, étnicos, sexuais ou com necessidades especiais. Vê-se aí, que a escola ao não abordar estas questões, acaba por legitimar as marcas da diferença. Segundo a autora, a sociedade não discute abertamente a homossexualidade, com medo de que isso possa interferir na orientação sexual dos adolescentes, mas que a escola tem a obrigação de discutir o tema, uma vez que é uma instituição social, cuja função é formar cidadãos.
A escola deve ser fonte de conhecimento e desmistificação de tabus e preconceitos infundados. A escola se apresenta ignorante quando não aprofunda tais questões, não adianta falar sobre o assunto se a forma de apresentá-lo estiver carregada de preconceitos, sem um preparo do profissional que se dispõe a falar (FERNANDES, 2007).      
Somente através da discussão objetiva, clara e isenta de preconceitos, é possível tratar a sexualidade de forma ampla, dentro do espaço escolar, pois o silencio fortalece o preconceito e a desinformação.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Família

A Importância das Relações Pais e Filhos na Construção da Identidade Cristã

Introdução

O presente trabalho pretende fazer uma revisão de literatura com o objetivo de investigar as relações estabelecidas entre pais e filhos e sua influência na construção de uma identidade cristã, buscando compreender como estas relações contribuem ou interferem na formação dessa identidade, refletindo sobre as dificuldades, os medos, as ansiedades, as dúvidas, as fantasias e expectativas dos pais quando se fala em uma criação voltada para a Bíblia, e quais conflitos podem gerar.

A idéia para essa análise teve início a partir da observação das dificuldades de comunicação entre os pais cristãos e seus filhos as quais trazem, geralmente, um crescente distanciamento entre eles. Frente a formas de tratamento e ensinamento imposto em detrimento às escolhas dos filhos o relacionamento acaba por gerar muitos conflitos, ficando prejudicadas as relações. Assim, esse texto pretende discorrer sobre o que pode definir a qualidade das relações entre pais e filhos para a construção da identidade cristã.
A família como principal agente no desenvolvimento humano

Desde os primórdios os seres humanos têm sido foco de estudo. Procura-se saber como eles nascem, crescem e se desenvolvem, considerando as mudanças que são próprias do desenvolvimento.

Todo indivíduo, desde o nascimento necessita ser cuidado, e isso acontece geralmente dentro de uma família. É dentro da família que ele se sentirá cuidado, amado, querido, por mais conflitos que enfrentem uma determinada família,é ali que começará seu desenvolvimento.

Soifer (1982, p. 23), define a família como:
[...] estrutura social básica, com entrejogo diferenciado de papéis, integrada por pessoas que convivem por tempo prolongado, em uma inter-relação recíproca com a cultura e a sociedade, dentro da qual se vai desenvolvendo a criatura humana, premida pela necessidade de limitar a situação narcísica e transformar-se em um adulto capaz [...]

A família é a responsável pela estruturação de cada indivíduo, onde ele nasce, cresce e se desenvolve psíquica e emocionalmente, formando sua identidade e personalidade, portanto, o objetivo da família é educar os filhos para a vida. Soifer (1982) ainda salienta que à medida que o desenvolvimento acontece, a criança aprende a respeitar, amar e ser solidária, em contraponto aprende a lidar com os sentimentos de ódio, inveja, rivalidades e ciúmes originados dos conflitos infantis, consolidando-se a identidade da família na sociedade. Durante o desenvolvimento são observadas algumas influências que podem definir a maneira de ser de cada indivíduo, construindo assim, sua identidade enquanto ser humano.

Segundo Winnicott (1988), um indivíduo começa a existir quando é concebido mentalmente, ou seja, quando os pais manifestam o desejo, não apenas consciente de conceber. A partir desse desejo pode-se dizer que a identidade começa a formar-se. A mãe é a primeira a introduzir a criança no mundo e através das sensações essa criança vai conhecendo o que a rodeia, tendo a possibilidade de relacionamento com os outros.

A partir do nascimento do bebê a ligação necessária ao desenvolvimento deste, pode ativar nos pais fantasias e desejos narcísicos advindos de conflitos não elaborados do passado destes. Muitas vezes as dificuldades na interação da mãe e seu bebê, podem ser indicativos destes problemas não elaborados. Quando estes conflitos inconscientes invadem o bebê ainda em formação, pode vir a comprometê-lo ou até mesmo impedi-lo de desenvolver-se para se tornar um indivíduo autônomo.

Dessa forma percebe-se o quanto a relação pais e filhos é importante, já no momento em que se deseja formar uma família. O bebê que é desejado e amado mesmo antes de ser concebido têm a possibilidade de construir sua identidade alicerçada numa relação de amor, proteção e compreensão. A proteção da família, o modo como o bebê é inserido no mundo pode revelar a qualidade dos relacionamentos estabelecidos dentro dessa família que podem ou não influenciar na formação da identidade cristã.

A identidade está ligada às características que compõem ou que são próprias de um indivíduo, é o que diferencia um indivíduo do outro, esta se baseia na construção do autoconhecimento e da relação com o mundo que o rodeia. A vida social é vivida de trocas que possibilita a constituição da identidade da criança e, à medida que ela se desenvolve vai se identificando com o meio para tornar-se uma pessoa. No primeiro momento a criança é pura sensação e se identifica com o seio da mãe, conforme cresce passa a reconhecer o ambiente e a mãe como alguém à parte dela.

Assim a noção de identidade sugere que o sujeito precisa de outro para se desenvolver, para adquirir atitudes, valores e princípios que vão norteá-lo em sua vida adulta e social e à medida que a criança cresce e se desenvolve ela vai se tornado uma pessoa diferenciada dos pais, adquirindo com a ajuda deles, certa autonomia, num processo de identificação (KUSNETZOFF, 1982).

De acordo com Papalia (2006) a adolescência é uma fase repleta de mudanças em que o pequeno jovem começa a descobrir quem é e o que quer ser. Para crescer e entrar no mundo dos adultos, o adolescente precisa, aos poucos, ir se separando dos pais o que, às vezes é insuportável para certos pais, pois estes deixam de ser as pessoas mais importantes do mundo para se tornarem “velhos caretas”. Nesse momento é comum que o adolescente busque grupos com os quais possa se identificar. Papalia (2006) explica a importância da influencia do grupo na vida dos adolescentes,
O grupo de amigos é uma importante fonte de apoio emocional durante a adolescência. Jovens que estão passando por rápidas transformações físicas sentem-se melhor na companhia de outros que estão passando por mudanças semelhantes. (PAPALIA, 2006 p. 500).

Mas isso não quer dizer que a família perdeu a importância na vida dele, pelo contrário é nessa fase que eles mais precisam do apoio da família, pois são os pais que dirão o que eles podem ou não fazer. Ferrari (2000) afirma:
“[...] é a família que propicia os aportes afetivos e sobretudo materiais necessários ao desenvolvimento e bem estar dos seus componentes. Ela desempenha um papel decisivo na educação formal e informal, é em seu espaço que são absorvidos os valores éticos e humanitários onde se aprofundam os laços de solidariedade. É também em seu interior que constroem as marcas entre as gerações e são observados valores culturais.” (apud GONÇALVES, 2001, p. 10).

Sendo assim, o bom relacionamento entre pais e filhos é fundamental para a formação de uma identidade saudável, mesmo que na fase da adolescência os ensinamentos dos pais pareçam não ter importância para eles, nesse sentido é preciso que os pais os compreendam. Os pais que transmitem afeto, atenção e orientação, respeitando as escolhas do filho, estarão reforçando sua auto-estima, fazendo com que se sintam valorizados e seguros para enfrentar os desafios do mundo real.
A religião na vida do homem

Religião é uma maneira que o homem encontrou de se aproximar de Deus, estabelecendo com ele uma inteira dependência. Essa dependência se manifesta através da fé e também das obras que são os cultos ou reuniões solenes e festividades, mas muitas vezes se expressa através do medo daquilo que é diferente e desconhecido. Rubem Alves (1999, p. 62) afirma que:
“[...] o indivíduo [...] se descobre totalmente dependente de algo que lhe é superior. [...] O sagrado é o criador, a origem da vida, a fonte da força. [...] Sente-se dominado e envolvido por algo que dele dispõe e sobre ele impõe normas de comportamento que não podem ser transgredidas [...]” (ALVES, 1999, p. 62).

O homem na sociedade é dono de si mesmo e de muitas coisas, ele domina o mundo com suas invenções tecnológicas, mas no mundo sagrado ele se apresenta como servo para servir ao Senhor Supremo da criação, ele se torna totalmente submisso.

Schleiermacher, in Otto (1985 p. 14), enfatiza que esse sentimento de dependência na religião é mais intenso, “Isto acontece exatamente porque se trata de um dado cuja origem e fundamentos encontram-se na alma”, tornando o servir uma prioridade diante de quaisquer circunstâncias, mesmo que pareça loucura. Portanto o servir e obedecer a Deus torna-se prioridade na vida do cristão.

Temos hoje no Brasil uma diversidade de religiões e pessoas que defendem com afinco cada um a sua, discutem, brigam e tentam convencer o próximo a seguir o seu caminho. Os ideais são passados de geração a geração e aceitos de forma inquestionável, estando eles certos ou não, tendo como recompensa para o cristão um sentimento de fortaleza diante do sofrimento, isto é, mesmo nas piores situações da vida sente-se forte para vencê-las graças à força que vem de Deus. Assim, muitas vezes a religião torna-se o clamor daqueles que sofrem e almeja tranquilizar sua alma aflita, ou seja, o que deveria ser prazeroso se torna uma troca – adora-se a Deus para receber Dele o favor.
Pós Modernidade X Criação dos filhos de acordo com os valores e crenças - um desafio

Na era moderna o homem vem adquirindo novas maneiras de pensar e enxergar o mundo, a todo instante é coberto de novas informações e novas descobertas em todas as áreas afins. Nesse sentido, a sociedade se caracteriza como uma sociedade globalizada priorizando o poder de consumo, os valores deixaram de ser universais passando a ser, para muitos individuais e autônomos. E é neste contexto que a pós-modernidade chega trazendo consigo a formação de indivíduos cada vez mais mergulhados nas incertezas e medos, fazendo-o buscar respostas nos valores de uma "modernidade reflexiva" (GIDDENS, 1996).

Segundo McGrath (2007, p. ),
O pós-modernismo é geralmente entendido como algo de sensibilidade cultural sem absolutos, certezas fixas ou fundamentos [...] [...] O pós-modernismo declara que todos os sistemas de crenças devem ser vistos como igualmente plausíveis. Algo é verdadeiro se é verdadeiro para mim.

Sendo assim, todos são possuidores da verdade, isto é “vale tudo”, não existe mais um padrão de exposição da realidade, é o fim da proibição. Esses novos conceitos colocados diariamente afrontam os princípios cristãos despertando nos pais a insegurança de que não vão conseguir incutir no filho os ensinamentos bíblicos.

Desde cedo, filhos de pais cristãos começam a aprender que o Homem foi criado à imagem e semelhança de Deus e a obediência a Ele vem em primeiro lugar.

Quando falamos em educação de filhos cristãos entramos num dos principais problemas das famílias hoje em dia. “Ser criado numa família cristã e ensinado nas igrejas cristãs não garante que nossos filhos irão adotar a fé cristã” (MCDOWELL, 1994, p. 91). Enquanto as crianças são pequenas, são direcionadas e fazem o que os pais querem. À medida que crescem esses pais começam a entrar em conflitos, pois o crescimento e desenvolvimento causam mudanças e com as mudanças vem às crises. A primeira crise que se apresenta é a crise de autoridade, os pais acham que por deterem o total poder sobre o filho deve-se fazer obedecer e muitas vezes exercem o autoritarismo, prejudicando assim, o aprendizado. Alguns comportamentos são compreendidos pelos pais como rebeldia, fazendo-os agir de forma errônea buscando assegurar sua autoridade mostrando “quem é que manda”. Segundo McDowell, (1994) é preciso estabelecer um relacionamento real antes de estabelecer as regras para que estas não induzam a rebelião e não prejudiquem a autoimagem e autoestima do adolescente.

O relacionamento real é ao mesmo tempo estar ligado e diferenciado dos outros, possibilitando a auto-observação, disposição para autocrítica e consequentemente a mudança. Os filhos precisam reconhecer na relação com seus pais a verdade e segurança para o enfrentamento das próprias escolhas, buscando assim, o equilíbrio entre o respeito e obediência aos pais e a autonomia, proporcionando à família bases de respeito, amor e carinho, meios pelos quais a família se estrutura com saúde.

De acordo com Quirino, (2009) o objetivo de uma família cristã é construir um relacionamento saudável pautado num testemunho cristão, e isso é possível através dos direcionamentos bíblicos. É preciso que os pais não contradigam os ensinamentos, não adianta conhecer as Escrituras, ensiná-las aos filhos e não vivê-la, a criança não acreditará no ensino.É responsabilidade de todo pai cristão procurar conhecer a Palavra de Deus para falar sobre ela e comunicá-la com precisão aos seus filhos. Assim sendo, uma comunhão familiar é fundamental para o aprendizado sobre os fundamentos bíblicos sem pressão.

Diante do exposto, percebe-se que há uma necessidade de orientação a esses pais em como refletir sobre os seus filhos, proporcionando ajuda em como lidar com a angústia de não ter um manual ou treinamento para a criação dos filhos, mas que é na relação do dia a dia, na confiança no seu potencial que poderão ser pais sábios para promover um desenvolvimento adequado para seu filho.
Discussão e Conclusão

Este trabalho buscou investigar possíveis ligações entre relações familiares e construção de identidade cristã. A revisão literária indicou que a família é o berço do desenvolvimento psíquico e, por conta disso, responsável pela transmissão de valores, costumes e conceitos acerca da vida (Soifer, 1982). Neste processo de transmissão, estão contidas fantasias, medos, anseios, crenças diversas, enfim, que são, na realidade, fruto de uma integração de costumes e valores, em partes pertencentes a uma figura paterna e, em partes, advindas de uma figura materna.

Assim, é possível compreender que valores ligados à religião também serão transmitidos, e tais valores estarão, também, ligados à vivência religiosa dos pais. Se o objetivo da família é o de educar e formar o indivíduo, tal processo dar-se-á com base na formação que os pais deste tiveram anteriormente com seus familiares e responsáveis. O desenvolvimento da personalidade de um indivíduo, assim, está diretamente envolvido com as relações estabelecidas entre ele e seus familiares, e tais relações serão, então, determinantes também no processo da construção de sua identidade cristã, bem como no desenvolvimento de sua personalidade (Papalia, 2006).

No mundo pós-moderno há uma diversidade de pensamentos e religiões. As pessoas usufruem de seu livre arbítrio para viverem conforme suas crenças e ideologias, os valores deixaram de ser universais para se tornarem individuais e autônomos, cada um dita sua própria regra e assim, vale tudo.

Comumente se observa no meio cristão uma insegurança diante das dificuldades em relação aos ensinamentos bíblicos e com a rotina do dia a dia, da vida profissional, os pais não encontram tempo para conversar, brincar, enfim passar um tempo junto com os filhos e assim, fica difícil garantir que o filho seja alguém responsável, fiel e temente a Deus vivendo num mundo “contaminado” da pós-modernidade.

Há em certos pais uma fantasia de que existe um ensinamento privilegiado para os cristãos que parece ser diferente ao ensinamento secular, e um conflito quanto a esse ensinamento quando esse parece não ser internalizado por seus filhos, tendo que se colocar, o tempo todo, em contradição com a Bíblia. Esses pais consideram um desafio viver de acordo que a palavra de Deus num mundo todo “errado”, assim percebe-se um medo grande da influência desse mundo sobre seus filhos, colocando em cheque seu exemplo de cristão.

Muitos pais por não confiarem em si mesmos como instrutores da palavra de Deus, acabam agindo precipitadamente com castigos, chingamentos, instigando a ira em seus filhos. Em outro momento buscam respostas prontas para a educação dos filhos, demonstrando a incerteza de que são realmente capazes de instruir o filho como diz em Provérbios 22:6 : “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele”, e que também podem fazê-lo através de seu exemplo como servos de Deus, ao contrário disso confirmam o tempo todo a sensação de não serem pais bons o suficiente para encaminhar e caminhar com o filho nesse ensinamento. A dúvida é a mesma para todos, como fazer com que os filhos saibam diferenciar o “verdadeiro certo” do “verdadeiro errado”, para realizarem escolhas certas, se eles – os pais, não conseguem entender as escolhas que fizeram? Assim fica difícil caminhar com o filho. Considerando o que diz McDowell, (1994) os filhos precisam ter convicções sólidas sobre a verdade para não aceitar facilmente as falsificações e fazerem escolhas erradas, trazendo assim sofrimento para a família.

É possível perceber que grande parte dos conflitos nos relacionamentos com os filhos são gerados pela incompreensão de qual o verdadeiro papel de pais cristãos na formação dos filhos. Em virtude de uma má interpretação de passagens bíblicas, surge a fantasia de que tudo é pecado, inclusive os conflitos vividos pela adolescência, não podendo enfrentá-la como um elemento importante no desenvolvimento do filho para o processo de tornar-se adulto.

Existe uma expectativa de uma educação cristã pautada em normas e valores cristãos, mas nem sempre o que é ensinado pelos pais é vivido pelos filhos, pois o inconsciente dos pais influencia a experiência consciente dos filhos e o que o filho aprende é através daquilo que não foi dito, mas foi sentido como verdade pela criança, levando os pais a colocar em dúvida sua própria fé. Exemplo disso é uma filha de pastor, criada com muito amor e carinho, na sã doutrina, sendo o orgulho dos pais por sua conduta, quando começou a namorar um jogador de futebol, fez sexo com ele logo no início do relacionamento e em pouco tempo dormira com toda a equipe de futebol, quando questionada o motivo de tal comportamento ela disse: “Eu queria me sentir amada. Nunca durava muito e sentia-me infeliz depois, mas pelo menos por breves momentos sentia como se alguém me amasse”. O pai ficou chocado com essa resposta, conta MCDOWELL (1994).

É fundamental que os pais não percam de vista os seus valores, os seus princípios, as suas crenças, estejam seguros do que buscam enquanto seres, enquanto sentido de vida, enquanto seu papel nesse mundo e que criem seus filhos com amor, respeito e compreensão, respeitando seus próprios limites e história de vida.

Compreendemos que os valores ligados à fé cristã, bem como a formação da identidade cristã, estão estreitamente vinculados à família e aos valores estabelecidos por ela e também na segurança estabelecida através da confiança em si mesmo como cristãos autênticos, seguidores da palavra de Deus. É importante salientar que essa população precisa ser compreendida em suas necessidades reais para assim serem ajudadas a prevenir dificuldades relacionais, em um espaço de promoção da saúde familiar. E é exatamente esta a busca deste trabalho, alertar as famílias para prevenção e promoção da saúde no âmbito familiar e religioso.

Dessa forma este artigo procurou tecer considerações sobre a importância do relacionamento entre pais e filhos na formação da identidade cristã e chamar a atenção para futuros estudos nessa área.

sábado, 8 de setembro de 2012

MÚSICA HEAVY METAL


Símbolo do Diabo na música Heavy Metal,
Resumo: Este trabalho aborda uma analise do Símbolo do Diabo a partir da capa do disco Reign In Blood da Banda Norte Americana Slayer tendo o enfoque a partir da Psicologia Analítica. Dessa forma, busca-se compreender quais os significados deste Símbolo presente nesta capa de disco e suas possíveis influencias na vivencia da tribo urbana dos Headbangers.

Palavras Chave: Diabo, Heavy Metal, Headbangers, Símbolos, Psicologia Analítica. 
Introdução:
Faz mais de três décadas desde que o primeiro som de guitarra pesado e distorcido surgiu e teve as atribuições que o distinguiram do rock n’ roll para ser reconhecido como Heavy Metal. Erguendo do subsolo aqueles que por de trás da força e do peso da música se encontravam e se uniam num espaço antes inexistente. Este espaço se consolidou e passou a ser conhecido como Underground, enquanto os que o compartilham passaram a se reconhecerem como Headbangers - que possuem a música Heavy Metal como referência central deste espaço com suas particularidades enquanto tribo urbana.

A década de 1980 até hoje é tida como “os anos dourados” do Heavy Metal, tanto em contexto de música, quanto em questão de consolidação do espaço Underground e a formação de suas principais singularidades. Entre elas, as utilizações de alguns Símbolos se tornaram marcas da identidade dos Headbangers e se repetem até hoje, mais de trinta anos depois. O exemplo das vestes pretas ou do “chifre do diabo”, o mosh-pit e o “bate-cabeça”, que junto com outros Símbolos e gestos se somaram ao sonho de fazer e viver Heavy Metal passou a dar um novo significado a vida cotidiana de incontáveis fãs ao redor do mundo, identificando-os e lhes dando força. O Underground se tornou uma rede de informações, de produção artística e mercado que gira em torno do gênero musical e dos Headbangers, desde vendas de itens manufaturados e industrializados, produções profissionalizadas e independentes de bandas do gênero e etc. E ao longo dos anos vêm se expandindo cada vez mais, ganhando novos horizontes, graças às novas tecnologias que facilitam o acesso a estes materiais e informações.

O Underground cresceu e se fortaleceu anos a fio com o Heavy Metal longe dos meios de comunicação das grandes massas.  Pois estes priorizam a músca pop[1]que por sua vez possui uma estética totalmente avessa ao que o Heavy Metal propõe a fazer. Porém mesmo longe dos grandes centros mercadológicos, onde ficam concentrados os aspectos de grande giro de capital. Assim os Headbangers produziram em seu próprio espaço mecanismos para que “o fazer e viver Heavy Metal” fosse possível. Com isso foi possível preservar as principais características da tribo urbana ao longo do tempo. Algo que os diferenciou de outras tribos urbanas e movimentos que surgiram ao longo dos últimos trinta ou quarenta anos, tal como o hippie ou o punk, que apesar dos respectivos legados históricos, hoje já se encontram tão defasados e, ou descontextualizados, a ponto de serem introduzidos à cultura comum, de modo generalizado, deixando de ser algo totalmente a parte.

O Underground pode ser entendido como uma comunidade simultânea ao cotidiano comum, um sistema subversivo com sua dinâmica própria. Onde a música, a estética, os Símbolos e a identificação se uniram e enraizaram de modo que se tornou algo a parte, porém, para um leigo, provavelmente esse mundo nunca existiu e pode viver a vida inteira sem o perceber, talvez, sem jamais perceber a tamanha complexidade visualizando apenas alguns cabeludos vestidos de preto, agitadores de expressão carrancuda, que ouvem músicas barulhentas – estereotipicamente falando. Os Headbangers levam o Heavy Metal como uma segunda pele, assim o Underground se alastrou para lugares antes, nos primórdios do gênero musical, jamais imaginados, e estes, por sua vez, tornaram-se extensões do Underground, assimilando sua cultura e produzindo em prol do Heavy Metal. Lugares como Egito, China, Indonésia e Israel, que se pouco tem em comum enquanto paises, os Headbangers têm muito (DUNN; McFADYEN, 2008).

Contudo, diante da gama de possibilidades de estudo perante a uma linha histórica que atinge mais de três décadas, aqui será abordado apenas alguns dos aspectos principais, tomando como centro o Símbolo do Diabo a partir de uma analise dos elementos Simbólicos presentes no disco Reign in Blood da banda norte americana Slayer. Então, por que especificamente esta banda e este disco para tratar de algo tão amplo? Sumariamente, por uma questão de ponto de partida, um norte para a intencionalidade do projeto. Em segundo lugar por que é um disco que possui uma temática controversa rendendo todo um livro – Reign In Blood de D. X. Ferris (2008) – ao passo que a banda também possui fãs ao redor do mundo que, hoje ainda discutem o disco, como em Global Metal (DUNN; McFADYEN, 2008) no qual um Headbanger israelense discute uma das músicas do disco por tratar sobre o Anjo da Morte [2], o nazista Joseph Mengele. Assim como a expressividade do disco ao receber em 2004 uma releitura em DVD, tanto da arte da capa modificada em alguns aspectos, quanto ao fato de ter sido executada ao vivo as músicas do disco na integra para a gravação, sob o titulo Still Reigning [3], o que mostra sobre representatividade do disco para os Headbangers. Assim, o Slayer e o disco Reign in Blood parece ter tido muito que dizer aos Headbangers de 1986, quando o original foi lançado, quanto tem aos da atualidade, além de ter o Diabo como tema central da história do disco.

Sendo o Diabo uma das figuras com significativa presença no universo simbólico do Heavy Metal como em capas de discos, letras de música e etc. Pretende-se aqui trazer a tona os possíveis significados do Símbolo e a sua possível influencia na vivência dos Headbangers, pois se trata de algo singular e pouco explorado seja pela arte e pela cultura ocidental de modo geral, sendo este também um tema que abordado pode nos levar um pouco mais fundo em um contexto desconhecido da experiência humana coletiva através das expressões dos Símbolos.
Principais Conceitos da Psicologia Analítica

Primariamente devem ser esclarecidos alguns dos principais pressupostos da Psicologia Analítica. Por tanto, a priori, apontar sobre o que seria o Consciente e o Inconsciente na perspectiva da teoria formulada por C.G. Jung torna-se apropriado. Por tanto nos postulados de Jung provenientes de seus estudos acerca da mente humana, esta foi dividida em Consciente, Inconsciente Pessoal e Inconsciente Coletivo.

Abrangendo sobre a psique nos pressupostos da Psicologia Analítica afirma-se que, “na área do Consciente desenrolam-se as relações entre conteúdos psíquicos e o Ego, que é o centro do Consciente“ (SILVEIRA, 2003, pág. 63), no qual o Ego tem a função de se relacionar e “filtrar” os conteúdos que surgem do Inconsciente. O Consciente pode ser definido simplesmente como o estado de vigília e os conteúdos acessíveis por viés induzido, entretanto, sem haver alguma definição mais aprofundada da posição do Ego, esta se torna simplória em excesso para explicar o funcionamento completo do Consciente, por tanto, “Jung define o Ego como um complexo de elementos numerosos, formando, porém, unidade bastante coesa para transmitir a impressão de continuidade e de identidade consigo mesma” (SILVEIRA, 2003, pág. 63).

Por outro lado, o Inconsciente Pessoal é constituído por elementos que atravessaram a experiência sensorial do individuo, mas não possuiu energia psíquica o suficiente para permanecerem no consciente. Mais detalhadamente como:
O Inconsciente Pessoal se compõe, primariamente, daqueles conteúdos que se tornaram Inconscientes, seja porque perderam sua intensidade e, por isto caíram no esquecimento, seja porque a consciência se retirou deles (é a chamada repressão) e, depois, daqueles conteúdos, alguns dos quais percepções sensoriais do consciente que nunca atingiram a consciência, por causa de sua fraquíssima intensidade, embora tenham penetrado na consciência de algum modo (JUNG, 2000, pág. 45).

O Inconsciente Pessoal pode desenvolver energia psíquica para romper as barreiras do Ego e permear o Consciente em momentos de vulnerabilidade, ocasionando os atos falhos no estado de vigília e sonhos durante o sono.

Por último, na estrutura da psique, está o Inconsciente Coletivo, no qual se encontram as funções mais primitivas da psique, que como herança imemorial de possibilidade de representação, não é individual, mas comum a todos os homens, e constitui a verdadeira base do psiquismo individual, elucida Jung (2000). Para aprofundar mais no assunto pode ser abordada então a questão dos Símbolos, que na visão Analítica, trata-se de uma linguagem complexa da qual o Inconsciente Pessoal se utiliza para expressar os Arquétipos, sendo estes os conteúdos que permeiam o Inconsciente Coletivo.

Os Arquétipos são de mensuração impossível, por tanto também foge à possibilidade de compreender os Símbolos de maneira completa, desta forma, “o Símbolo é uma forma extremamente complexa. Nela se reúnem opostos numa síntese que vai além das capacidades de compreensão disponíveis no presente e que ainda não pode ser formulada dentro de conceitos” (SILVEIRA, 2003 pág. 71). Uma representação de um determinado Símbolo pode ter diversas interpretações e significados se analisados a fundo, a exemplo de ilustração pode-se levar em conta a cruz e a mandala.

Para ampliar ainda mais o que são os Símbolos para Jung, deve-se dizer algo mais sobre o que vem a ser o Inconsciente Coletivo e os Arquétipos. Portanto, pode-se descrever o Inconsciente Coletivo como sendo as camadas mais profundas do Inconsciente. Nestas camadas em que residem os Arquétipos,  Silveira (2003 pág. 68) elucida o pensamento de Jung sobre a questão, “incansavelmente ele repete que os Arquétipos são possibilidades herdadas para representar imagens análogas ou similares, são formas instintivas de imaginar”. Assim como já dito anteriormente, os Arquétipos são uma instância de natureza, que em si, é desconhecida, pois não disponibilizamos de instrução ou instrumentos que nos permitam chegarmos a tal mensuração:
Devo reconhecer minha ignorância. Mas na medida em que os Arquétipos se revelam eficazes, são para mim efetivas, se bem que eu não saiba em que consistam realmente. É verdade que isso é válido não só em relação a eles, mas à natureza mesma da psique (JUNG, 1986 pág. 135).

Uma das formas mais comuns da representação do inconsciente na linguagem Simbólica se passa na vida onírica do sujeito, ou seja, nos sonhos. Assim como também está presente nas representações quando se está de vigília, trazendo mensagens do Inconsciente, quando este interage com o Consciente ultrapassando as barreiras do Ego. Portanto a natureza dos Símbolos pode ser entendida como algo dinâmico e presente no universo da vida psíquica do homem:
Os Símbolos têm vida. Atuam. Alcançam dimensões que o conhecimento racional não pode atingir. Transitem intuições altamente estimulantes, prenunciadoras de fenômenos ainda desconhecidos. Mas desde que seu conteúdo misterioso venha a ser apreendido pelo pensamento lógico, esvaziam-se e morrem (SILVEIRA, 2003 pág. 72).

Parece claro também o porquê da maior fonte de Símbolos serem os sonhos. Nos quais estes atuam livremente e de maneira dinâmica nas representações oníricas que não se colocam nos juízos de valor típico do Ego do homem. Porém, o Inconsciente mostra muito mais do que os Símbolos, provenientes dos intangíveis Arquétipos, mas também o caminho para que se encontre dentro de si mesmo. Ou seja, a Individuação do sujeito. Que por sua vez, trata-se de um processo de evolução psíquica, a busca pela completude individual e a tomada de Consciência deste processo atuando no mesmo.

Para tal o individuo deve passar pelas fases que caracterizam o Processo de Individuação, sendo que as mesmas consistem no confronto do Inconsciente com o Consciente. Entretanto deve-se levar em consideração que: “Aquele que busca individuar-se não tem a mínima pretensão a tornar-se perfeito. Ele visa completar-se, o que é muito diferente” (SILVEIRA, 2003 pág. 78), pois esta é uma das falsas interpretações do real significado proposto pela Psicologia Analítica para este processo.

O Processo de Individuação pode ou não fazer parte da vida psíquica do individuo, a maioria dos sujeitos, nunca toma consciência desse processo, nunca chegando a individuar-se. Mas o que de fato ocorre neste Processo? Inicialmente pode-se ter uma conotação de uma aprendizagem de algo que leva o individuo a um estado diferente consigo mesmo, mas se ao mesmo tempo não é a perfeição, qual a sua importância? 
Aqueles que não se diferenciam permanecem obscuramente envolvidos numa trama de projeções, confundem-se, fusionam-se com outros e desse modo são levados a agir em desacordo consigo mesmo, com o plano inato do próprio ser (SILVEIRA, 2003 pág. 89).

Mas individuar-se não é uma simples questão de escolha, o sujeito deve se tornar ciente do mesmo, dar-se conta de si mesmo e aceitar-se perpassando um processo longo e árduo no qual é necessário enfrentar os seus demônios para por fim:
O homem tornar-se ele mesmo, um ser completo, composto por consciente e Inconsciente, incluindo aspectos claros e escuros, masculinos e femininos, ordenados segundo o plano de base que lhe for peculiar (SILVEIRA, 2003 pág. 88).

A citação acima ainda coloca de forma evidente como a psique possui características de polaridade, ou seja, inversos, tal compreensão pode demonstrar o sentido de totalidade possibilitado pela psique passível de alcanço através do Processo de Individuação. Sendo que o Processo de Individuação pode ser compreendido como um caminho ao qual o Inconsciente nos convoca por via de metáforas, e que pode ou não ser reconhecido pelo sujeito.

O Processo de Individuação, para a Psicologia Analítica, é inerente à psique do homem, representando a sua particularidade bipolar e as representações sobre si mesmo que ela agrega no Inconsciente Individual. Portanto, por medida de relevância para a pesquisa proposta é necessário ampliar o conceito de Anima e Animus assim como Persona e Sombra, Arquétipos fundamentais do processo de Individuação.

Sobre Anima e Animus deve-se levar em conta a questão do masculino e feminino, no sentido de polaridades distintas, mas presentes no Inconsciente Coletivo, ou seja, em todos os homens e mulheres. No caso, o Arquétipo masculino sendo o Animus e o feminino a Anima, possuindo o seu oposto como equivalente, psiquicamente representando o masculino e feminino que existe em minoria no oposto, como o lado feminino do homem e o lado masculino da mulher. 

Logo “há uma imagem coletiva da mulher no Inconsciente do homem, com o auxilio da qual ele pode compreender a natureza da mulher” (JUNG; Carl G. 2008, pág. 77) o que ocorre com a mulher de forma oposta. As imagens coletivas do masculino e do feminino possuem suas respectivas particularidades e relação de opostos que complementam uma a outra, desta forma a Anima esta ligada à vida como um fenômeno natural espontâneo, os instintos, a intuição, a vida da Terra, da emotividade, que nós dirigimos as coisas e as pessoas (WHITMONT, 1998). Por outro lado o Animus (SILVEIRA, 2003) é representado, por exemplo, em sonhos e mitos em formas de animais selvagens, demônios, príncipes, criminosos, heróis, feiticeiros etc. Essas representações de Anima e Animus fazem parte do individuo e é necessário que ele a integre de uma forma positiva para que conheça o seu oposto e com ele consiga se relacionar de uma forma saudável.

Persona e Sombra são composições singulares e opostas que assim como a Animus e a Anima se complementam. Enquanto a Persona está no Consciente do homem, regulando seus comportamentos e sua personalidade, fazendo de si mesmo uma máscara de roupagem o mais próxima do ideal do Ego. Enquanto a Sombra se torna uma contrapartida da Persona, relegada ao Inconsciente, escondendo involuntariamente da Consciência por serem considerados por si mesmos inadequados e inaceitáveis para o convívio social.
A Persona lança fora de seu campo de Consciência todos os elementos – emoções, traços de caráter, talentos e atitudes – julgados inaceitáveis para as pessoas significativas do seu meio. Esse mecanismo produz no Inconsciente uma contrapartida de si mesmo a que Jung chamou ‘Sombra’ (OCAÑA, 2008, pág. 4, 5).

Ocaña esclarece acima o pensamento de Jung acerca de Persona e Sombra e simultaneamente expressa a natureza oposta das funções que exerce na psique. Entretanto ainda pode nos oferecer uma percepção errônea na qual a Persona seria algo positivo enquanto que a Sombra é o lado obscuro e que deve ser de fato renegado ao Inconsciente esquecido, para jamais ser lembrado, entretanto é muito importante para o Processo de Individuação, a busca pela totalidade.
Para Jung, a Sombra é um tesouro escondido no nosso campo, uma fonte potencial de riqueza que não está ao nosso alcance porque a mantemos enterrada. Aquilo que não queremos ser contém precisamente aquilo que nos faz completos. (OCAÑA, 2008, pág. 5).

Portanto, diferente do que sugere a priori, a Sombra não guarda apenas os aspectos negativos e maléficos da totalidade da psique do homem “mas também na sombra poderão ser discernidos traços positivos: qualidades que não se desenvolveram devido a condições externas desfavoráveis” (SILVEIRA, 2003, pág. 81), condições estas que exigem do sujeito energia psíquica para ultrapassar convenções estabelecidas pelo contexto social às quais o sujeito quer se identificar. 

A Sombra pode se manifestar de inúmeras formas na psique do sujeito, uma delas é durante o sonho, no qual se revela e mostra o lado da moeda ao qual não queremos ver, desta maneira “nos sonhos e nos mitos, portanto a Sombra aparece como pessoa do mesmo sexo que o sonhador” (JUNG, 2004, pág. 169). O que pode identificar o sujeito com sua Sombra mais diretamente e se enxergar nela de maneira que o incomode.     

Por outro lado na identificação plena com a Persona, o sujeito se afasta da sua totalidade e se torna apenas a sua função e representação social, ou seja:
O indivíduo funde-se então com seus cargos e títulos, ficando reduzido a uma impermeável casca de revestimento. Por dentro não passa de lamentáveis farrapos, que facilmente será estraçalhado se soprarem lufadas fortes vindas do Inconsciente (SILVEIRA, 2003, pág. 80).

Portanto o Inconsciente nos impulsiona ao processo de Individuação, em busca da totalidade, e o contato com a Sombra é uma fase delicada do processo.  

Jung ainda nos elucida sobre o processo de Sombra Coletiva no qual o homem que só, pode estar bem e desempenhando sua vida psíquica de maneira tranquila “mas assim que se encontra com ‘os outros’ comporta-se de maneira primitiva e maldosa começa a ter o medo de o considerarem tolo se não fizer o mesmo” (JUNG, 2004, pág.169). Assumindo assim a Sombra que não lhe pertence, desencadeando uma série de congregações nocivas, a exemplos dados por Jung em O Homem e Seus Símbolos (2004), o Kun Klux Klan, o fascismo, o nazismo, a dança de São Vito [4] a inquisição católica entre outras.  

Por fim, pode-se dizer que a perspectiva da Psicologia Analítica trás uma gama de possibilidades que abarcam o mais próximo da totalidade do sujeito, tendo este também como um de seus focos centrais na compreensão de homem.  Portanto, para se compreender os fenômenos coletivos e seus significados. De forma a não limitá-los em enquadramentos reducionistas, mas sim explorar ao máximo suas possibilidades, é que, o enfoque Analítico com sua perspectiva de sujeito ampla, aliada ao seu entendimento da origem e importância dos Símbolos no processo psíquico do mesmo. Permite buscar compreender a utilização dos Símbolos tanto num processo coletivo, quanto a sua relevância na vivencia psíquica individual. Sendo aqui proposto o enfoque no Símbolo do Diabo apresentado na capa do disco Reign in Blood.
Heavy Metal: Da Música à Irmandade.

O gênero musical atualmente conhecido como Heavy Metal não tem uma data específica para o seu surgimento “oficial”, porém sabe-se que no final da década de 1960 foi que se constituíram as bases que hoje identificam a música. Musicalmente o Heavy Metal herdou as práticas sonoras do blues afro-americano, do rock ‘n’ roll e do psicodelismo adicionando um volume altíssimo, distorção e peso, focado principalmente na guitarra elétrica segundo Jeder Janotti (2004), que ainda enfatiza: a performance de um guitarrista do gênero musical necessita de técnicas e equipamentos especiais, como pedais de efeitos e amplificadores para a criação das especificidades de sua sonoridade, evidenciando assim a sua postura central com relação à execução de uma música do gênero.

Outro aspecto que deve ser levado em consideração sobre a própria musica é a sua origem, ou ao menos o que muitos fãs e críticos acreditam ser o berço do Heavy Metal, a Inglaterra, entre jovens brancos da classe trabalhadora de regiões industriais, ou seja, jovens que conviviam intensamente com realidades adversas como o desemprego e o preconceito social. Ambiente este que influencia na origem da nomenclatura que foi dada ao gênero musical, que Jeder Janotti elucida (2004, pág. 20) como o nome que traduzido literalmente significa “metal pesado” que congrega significações de “armamento pesado”, de pessoas com grande habilidade física/mental e de componentes químicos tóxicos.    

A rotulação que passou a identificar o gênero musical é uma “honra” reivindicada por bandas e músicos como Black Sabbath e Alice Cooper, foco também de longas discussões tanto por críticos especializados e fãs que buscam determinar a origem do Heavy Metal.

Em 2005, o antropólogo canadense Sam Dunn em conjunto com Scot McFadyen lançou um documentário sobre a música e seus fãs (Metal: A Headbangers Journey), no qual ele entrevista ídolos, críticos e fãs do gênero, evidenciando esta discussão acerca das origens que deram corpo ao Heavy Metal e quais foram os seus verdadeiros pioneiros. Como as definições variam em relação à banda fundadora “oficial”, deve-se colocar em evidência as bandas britânicas que mais recebem esta incumbência, como Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purpple, sendo que, a que mais leva a fama entre críticos e fãs é a segunda das três citadas, o que fica bem marcado inclusive no mesmo documentário supracitado. Em sua trajetória, estes grupos obtiveram grande fama e sucesso fora do Reino Unido, principalmente na América do Norte.

Embora no final de 1960 e início de 1970 o Heavy Metal já esboçasse o corpo que viria a ter mais tarde, “foi somente na década de 1980, com o surgimento de várias bandas de metal na Inglaterra, conhecido como New Wave of British Heavy Metal [5], que passou a se constituir, num agrupamento urbano cosmopolita” (JANOTTI, 2004, pág. 23). É na década de 1980 que alguns elementos passam a se tornar características do universo Heavy Metal, assim como a origem do nome que define os fãs do gênero, Headbangers – literalmente “batedores de cabeça” - que tem origem no bangear [6], movimento rítmico e rígido com a cabeça. Janotti (2004, pág. 24) esclarece ainda que foi durante este mesmo período que o gênero aportou em outros países, a exemplo de Alemanha e Brasil.

Indubitavelmente, os anos de 1980 foi período que o heavy metal teve os “seus anos dourados”, com o surgimento de inúmeras bandas pelo mundo, fanzines [7], lojas e revistas especializadas, grandes turnês etc... Entretanto havia certa diferenciação entre o que se produzia na Europa em relação aos EUA desde o principio. Bandas surgidas na época na Inglaterra como o Iron Maiden, valorizavam temáticas sombrias, o peso e se baseava tanto em fatos históricos, filmes de terror quanto na literatura de autores como Edgard Alan Poe (JANOTTI, 2004).

Os americanos, a exemplo de Van Halen, valorizavam em suas temáticas o estrelato, o dinheiro, a fama e mulheres (JANOTTI, 2004, pág. 25), o que de certa forma pode ilustrar a diferença de características que influenciavam os contextos cotidianos dos adolescentes da época na Europa, que se aproximam muito mais do sombrio [8], enquanto que nos EUA havia uma influencia do capitalismo selvagem do governo de R. Reagan unida a uma face dionisíaca do “sonho americano”.

A versão americana que existia então acabou sendo ignorada pela maioria dos Headbangers e acabou recebendo posteriormente a denominação de Glam Metal, enquanto que as bandas do mesmo período do continente europeu passaram a ser mais valorizadas, sendo hoje ainda reconhecidas como verdadeiro Heavy Metal clássico (JANOTTI, 2004, pág. 25).  Este período estabeleceu também um inicio para se demarcar cada vez mais o que vem a ser Heavy Metal. Inclusive esta característica passou a ser assimilada pelos Headbangers de todo o mundo com a difusão da música, um aspecto que acabou por reforçar a introversão características de uma tribo urbana que se tornaria cada vez mais seleta, passando a chamar o seu próprio cenário musical e estilo de vida como Underground – subsolo.

Este contexto reitera a idéia do Heavy Metal ser algo à parte do resto do mundo, no qual a música pop e seus aspectos estéticos seriam desqualificados. Uma identificação ainda maior com o sombrio se torna perceptível, já que o espaço Underground por si só já traz uma idéia de um lugar escuro e melancólico, o purgatório, mais próximo do inferno do que do céu. Embora possa sugerir questões negativas para os não Headbangers, para estes é algo mais próximo de um espaço sagrado, onde subvertem a realidade e o cotidiano de suas vidas.

O Underground foi assimilado por grande parte dos músicos do gênero, o que acabou se evidenciando com a exclusão da maioria das bandas de Heavy Metal das grandes gravadoras e relegando as mais novas ao espaço de produção alternativa, com divulgações em fanzines [9] e gravações de discos em selos independentes de produção que passaram a ocorrer em grandes proporções. Desta forma, em antítese aos músicos de Glam Metal, na Califórnia (EUA), ainda na década de 1980 uma nova maneira de fazer Heavy Metal, o Thrash/Speed Metal. Pesado e sombrio como o Heavy Metal tradicional, porém incorporando elementos do Hardcore, ou seja, uma maior agressividade, adicionada à rapidez e humor sarcástico, são os principais aspectos que diferenciam o modelo “tradicional” do Thrash/Speed metal (JANOTTI, 2004, pág. 26). Com bandas como Metallica, Testament, Slayer, Exodus e Nuclear Assault que falam de temáticas como os perigos nucleares, o medo do avanço tecnológico, horrores cotidianos e críticas ácidas a religiões.

Por ser um termo genérico e que é aceito como auto-referencial para os apreciadores de Heavy Metal, ou ao menos a grande maioria, em detrimento de alguns outros como Metalhead, mais comum nos EUA, Headbanger se tornou universal, portanto mais aceitável para ser colocado como nomenclatura para a pesquisa aqui proposta.

Embora no Brasil o termo “metaleiro” [10] seja bastante comum entre os leigos, o mesmo foi categoricamente rejeitado no cenário Underground que surgia na época. Isto porque, em 1985, com a ocorrência do Rock In Rio I, no qual grandes bandas de Heavy Metal se apresentaram e entre elas figurava o seu maior expoente em abrangência mundial, o Iron Maiden, a rede midiática televisiva utilizou o termo “metaleiro” de forma estigmatizada, assim fazendo com que o termo se tornasse algo aversivo ao cenário Underground nacional da época e inclusive nos dias atuais (JANOTTI. 2004, pág. 38).

No fim da década 1980, após o surgimento do thrash metal, o Underground passou a assimilar diferentes subgêneros subsequentes que incorporavam ou criavam novos elementos que os diferenciavam e uniam ao mesmo tempo dos demais. A exemplo das transformações na música Heavy Metal e como elas ocorreram, criando assim outros subgêneros, pode-se citar que determinados vocalistas de bandas thrash:
...cantavam coisas ininteligíveis, aproveitando-se ao máximo dos sons graves produzidos pela garganta humana; antes de ser um simples urro, o gutural se tornou uma técnica especifica para se cantar alguns ‘subgêneros’ do metal.  (JANOTTI. 2004, pág. 25,26)

Mais tarde esses subgêneros nos quais os vocalistas utilizavam de vocalizações guturais ficaram conhecidos como “metal extremo” no cenário Underground, com um grupo de seguidores ainda mais seletos do que os anteriores, mesmo ainda estes se definindo como Headbangers e mantendo a sua proximidade com os seus antecessores no Heavy Metal.

Os principais representantes desses subgêneros são o death metal e o black metal, sendo que o primeiro como o próprio nome diz – morte - tem como temática central a morte explorada até a forma mais doentia que os músicos conseguirem imaginar e transformar em letra. O black metal, por outro lado, é a exploradora da face mais sombria da fantasia humana. Temas como satanismo, paganismo [11] e artes ocultas em geral são abordados inúmeras vezes neste subgênero. Inclusive muitas vezes passam a ser levados a sério por fãs e músicos, ao ponto de se tornarem praticantes, renegarem os valores cristãos em prol de antigas culturas pagãs, particularmente a cultura pagã nórdica, já que as grandes concentrações desse subgênero se encontram nos países daquela região como Suécia e Noruega.

Obviamente que este aspecto cada vez mais sombrio e avesso da musicalidade Heavy Metal trouxeram inúmeras consequências do mundo exterior a eles. Como a constante ligação com práticas condenadas pela moral cristã e atos ilegais de acordo com as leis de alguns países. Inúmeros artistas foram acusados e processados por “poluírem as mentes dos jovens”, induzir-los a cometer crimes ou suicídio entre outros (DUNN, McFADYEN. 2005).

Embora a maior parte das acusações oficiais tenha sido comprovadamente infundada, segundo tribunais ao menos, as acusações não vieram de um passado recente, elas surgiram antes mesmo do próprio Heavy Metal, o próprio rock n’ roll já sofria perseguições. Portanto se algo considerado “condenável” – o que na maioria das vezes abrange significativamente a imaginação das pessoas em relação ao desconhecido – fosse ligado ao Heavy Metal de alguma forma, o gênero musical como um todo será culpado.

Por conta disto até hoje religiões fazem cruzadas contra os fãs e músicos, proibindo que executem shows em determinados lugares, ou censurando capas de discos e julgando os que vivem no cenário Underground com adjetivos taxativos e tomando posturas que os colocam à margem da sociedade, tornando-os algo similar a uma seita secreta, poço eterno de suspeitas.      

Por outro lado “sem cristianismo não haveria Heavy Metal” (DUNN, McFADYEN. 2005), pois está é uma constante dentre as temáticas do gênero musical, em todos os subgêneros desde o principio. O Heavy Metal sempre traduziu em letras às dúvidas e os medos que a fé traz às pessoas em seus momentos mais obscuros, assim como também teceu críticas grotescas, sarcásticas, veementes à religião de maneira geral e imagens ligadas a morte assim como o Diabo em algumas de suas produções artísticas. Embora normalmente uma roupagem herege possa se tornar algo negativo para a maioria da cultura ocidental, para os Headbangers faz parte do seu contexto.

Por fim, o gênero musical como um todo sobreviveu fora dos grandes espaços produtivos da indústria musical, e até mesmo a uma versão “moderna” das cruzadas, por conta de uma fidelidade e identificação com a qual os fãs e músicos têm como um estilo de vida, um espaço subversivo, longe dos olhos do cotidiano maçante e normativo, utilizando-se de indumentárias, Símbolos e sinais que os unem [12]. Permitindo haver um sentimento uma exacerbação do lado sombrio qual escolheram se identificar, e que os une em qualquer lugar do mundo.
O Diabo Como Símbolo

O Diabo [13] é certamente o antagonista mais presente na cultura ocidental, ou ao menos nas religiões de origem Judaico-Cristão-Muçulmano. Personagem controverso e fundamental nas tramas que representam as trevas contra os poderes celestiais, o Diabo é também conhecido por vários nomes, entre eles Satã [14], Lúcifer [15] e Anticristo [16], porém ao longo da história o mesmo foi associado a Divindades de outras religiões a exemplo dos traiçoeiros Seth e Lóki, dos panteões egípcio e nórdico respectivamente. O Diabo é na cultura Judaico-Cristã-Muçulmana a personificação do mal e figura simbólica da indignação contra Deus (CHEVALIER; Jean, GHEERBRANT; Alain, 1995 pág. 202).

Ao fazer um levantamento sobre o Diabo, ser mitológico tão presente no universo ocidental, não há ponto de partida se não nos livros que lhe deram origem e significados que conhecemos hoje. Desta forma, no Velho Testamento Satanás é o opositor de Javé [17] e seus seguidores, como vemos em Zacarias (3,1) na qual sua figura se apresenta como um anjo e se opõe a Josué na corte divina. Ou quando em Crônicas 21:1, ”O Satã se dispôs contra Israel e incitou David a numerar o povo”. Assim pode-se ver que, segundo a mitologia Judaica, a figura do Diabo se põe como provedora da discórdia, se não por si mesmo, através dos que consegue influenciar.

Por outro lado no Novo Testamento o Diabo já aparece mais próximo do imaginário comum ocidental, como sendo o espírito do mal engajado numa disputa cósmica do Mal contra o Bem, algo que pode ser visualizado nos evangelhos de Mateus e Lucas que descreveram o ministério de Jesus (HIGGINBOTHAM; Joyce, HIGGINBOTHAM; River, 2003 pág. 114). Entretanto a bíblia não destina diretamente as origens do diabo e sim os seus feitos e as suas diversas formas sempre ressaltando que ele é o grande adversário de Deus e seus seguidores.

Embora o Velho Testamento tanto em Jó (1,6) quanto em Zacarias (3,1) sugira que ele é um dos anjos de Deus, enquanto que no Novo Testamento Lucas (10,18) escreve “Satanás caiu do céu como um raio” após uma derrota sofrida contra Deus, e o mesmo estaria em rebelião contra o próprio desde antes da criação da Terra. Como diz o evangelho de I João (3,1) “Quem comete o pecado é do Diabo; porque o Diabo peca desde o princípio. Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo”, esta afirmação sobre o inicio das atividades do Diabo pode ser facilmente entendido como uma citação ao capitulo 3 da Gênesis da bíblia que narra à expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden, na qual uma serpente teria enganado Eva levando a cometer o pecado de comer o fruto proibido. Porém apenas no final do Novo Testamento, em Apocalipse (12:9) é que as evidencias se tornam mais palpáveis quando diz "e foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele".  

O Jardim do Éden também é aonde o Diabo aparece na primeira vez em forma de um animal. Algo que se torna recorrente ao longo dos evangelhos, como no evangelho de I Pedro (5,8) onde este diz “vosso adversário, o demônio, anda ao redor de nós como leão que ruge, buscando quem devorar”. Mas não apenas em forma de animais intimidadores e, ou sedutores, a exemplo do leão e a serpente, mas também em forma de outras criaturas como o já citado Dragão e como o Leviatã, nos Salmos (104:26). Assim como é notável como as tramas do Diabo são sempre reveladas e castigadas por Deus nos evangelhos, retratando uma cíclica vitória do Bem contra o Mal, da Ordem contra o Caos e da Luz contra as Trevas, imagens recorrentes como é o caso do motivo de Cristo de pé sobre um leão ou Dragão que existe desde o século IV (CHEVALIER; Jean, GHEERBRANT; Alain, 1995 pág. 203) assim como imagem do santo cavaleiro São Jorge.

Mas certamente uma das imagens mais comuns e recorrentes do Diabo é a sua representação associada ao Bode, que é descrito e retratado inúmeras vezes da seguinte forma:
O emblema consagrado do cramulhão é o bode; é o emblema do que é animalesco segundo os demonólogos da Idade Média. A cabeça do Bode é adornada por uma estrela de cinco pontas virada pra baixo, ou seja – um pentagrama invertido. É a Estrela Negra, apontando para a terra, em vez do céu (CHARBONNEAU-LASSAY, 1997, pág. 183).

Enquanto por si apenas “o Bode simboliza a pujança genésica, a força vital, a libido, a fecundidade” (CHEVALIER; Jean, GHEERBRANT; Alain, 1995 pág. 134), sendo ele também um animal noturno e lunar, o Bode também é associado aos deuses do panteão grego como Dionísio, Afrodite e Pã, lhes servindo de montaria e ainda como oferenda sacrifical, como no caso de Dionísio (CHEVALIER; Jean, GHEERBRANT; Alain, 1995) na Idade Média o bode é reforçado com significados que o designam como figura representante do mal e por isso conjuntamente associado ao Diabo:
Animal impuro, completamente absorvido por sua necessidade de procriar, o bode nada mais é do que um signo de maldição, cuja força atingira seu auge na Idade Média; o Diabo, deus do sexo, passa a ser apresentado, nessa época sob forma de um Bode (CHEVALIER, GHEERBRANT, 1995 pág. 134).

A associação entre o Bode e o Diabo é se não apenas uma distorção tanto das suas significativas Simbólicas mais primitivas, mas também uma depreciação existencial do animal, assim como o Bode “o Diabo é associado à virilidade e, portanto, aos desejos carnais” (CHARBONNEAU-LASSAY, Louis. 1997 pág. 181) e sua figura ligada ao Bode são associados a um mau cheiro, o que na visão escatológica cristã, este fator fisiológico característico do Bode está ligada aos vícios de um humano que cede à tentação (CHARBONNEAU-LASSAY, Louis. 1997, pág. 181).

A própria figura do Diabo associada ao Bode pode também ter origem com uma figura Simbólica chamada Baphomet. “No vocábulo Baphomet teria vindo da Grécia Antiga, também existe a hipótese de que sua procedência esteja na conjunção das palavras Baphe e Metros, algo como ‘Batismo da Mãe’” (KING, C. W. - Op. Cit. Pág. 406). O que aliada a sua imagem tradicional, possui integração de aspectos femininos, pois é representado por uma figura com cabeça de bode e tronco de mulher humana. O que sugere que a ligação do Diabo com o Bode é também uma ligação do masculino com feminino.

Em evidencia a constante animalização do Diabo, como dragão, Bode, ou qualquer outra forma, sugere um seguimento simbólico de rebaixamento da condição humana inferior às designadas por Deus na visão Judaica-Cristã-Muçulmana, tornando-os seres que como marca de sua existência pecadora ostentam figuras bestiais e monstruosas. Porém particularmente na conjuntura do animalismo na mesma visão Judaica-Cristã-Muçulmana, a ligação do Bode ao gênero masculino que cai em desgraça:
Esse triunfo do aspecto nefasto ou noturno do Símbolo faz do Bode, por fim, uma imagem do macho em perpetua ereção, para o qual, afim de acalma-lo, é preciso três vezes oitenta mulheres. É o homem que desonra sua grande barba de patriarca através de copulações antinaturais. É ele quem desperdiça o precioso gérmen da reprodução, imagem do desgraçado, que se torna digno de comiseração por causa dos vícios que não consegue dominar, do homem repugnante, o bode representa o ser que se deve evitar tampando o nariz (CHEVALIER, GHEERBRANT, 1995 pág. 134).

Além dos significados do Bode em associação ao Diabo. Na forma de Baphomet surge um pentagrama invertido na cabeça, entre os olhos. O pentagrama com a ponta para cima representa o humano de braços e pernas abertas, assim como a sabedoria, amor, justiça, clareza e bondade (HOFMANN, Helmut G. 1999, pág. 108). Ainda segundo o mesmo autor, na visão cristã, o pentagrama significa o Cristo como Alfa e Omega, e as suas cinco chagas sagradas, ao mesmo tempo em que se a ponta do pentagrama for invertida, apontando para baixo ao invés de para cima, passa a significar “o símbolo do Diabo, do poder da matéria sobre o espírito e do predomínio do caos sobre a ordem” (HOFMANN, Helmut G. 1999, pág. 108). O que volta a sugerir a idéia de Anticristo, ou de polaridade inversa que esta em constante conflito.  

Por outro lado, a figura do Diabo possui simultaneamente uma identidade mitológica de pluralidade facetaria sugerida pelos diferentes nomes designados ao Anjo Caído, e suas atividades nas mitologias em que se insere. Estas possuem significações para similares a visão dualista Judaica-Cristã-Muçulmana de se possuir uma divindade puramente maligna e opositora ao bem. Como exemplo análogo se pode voltar a citar a divindade egípcia de Seth que detém o domínio dos terrenos áridos do deserto, inimigo da vida e de “fazer coisas vermelhas” que significa fazer o mal, agindo em oposição a Osíris, que lhe atribuíam à vida e “fazer as coisas verdes” o que era ligado ao bem, assim como a atribuição dos fenômenos de seus meios favoráveis ao homem (HOFMANN, Helmut G. 1999, pág. 79). Enquanto Levítico (16,10) narra sobre uma figura análoga na bíblia, o rito de enviar um Bode ao deserto para Azazel, um demônio que governa as terras malditas onde Deus não exerce sua ação fecundante (HOFMANN, Helmut G. 1999, pág. 135), a origem da idéia de bode-expiatório. Aqui nota-se que “fazer as coisas verdes” de Osíris poderia ser facilmente interpretado como a ação fecundante de Deus, enquanto que Seth e Azazel reinam no mesmo lugar, infecundo o deserto.    

O Diabo também aparece em situação análoga com divindades trapaceiras, como o já citado Lóki, Hermes, Discórdia e o índio americano Coiote (HIGGINBOTHAM; Joyce, HIGGINBOTHAM; River, 2003 pág. 124), em situações que como no Jardim do Éden tentam subverter nos desígnios das demais divindades através de artimanhas.

Outro fator análogo entre o Diabo e as divindades ligadas ao mal de outras religiões, é a associação direta às trevas e o negro, como no budismo onde o puro, o belo, o branco e nobre se opõe ao machado, negro, feio e comum (LURKER; Manfred, 1997, pág. 79), ou o Yin [18]. Ou como o terceiro ato de Deus na mitologia Judaico-Cristã, após criar Céu e Terra, segundo Gênesis (1:2), Deus separou a luz das trevas, e ainda segundo este trecho da bíblia, Ele viu que a luz é boa o que sugere que a outra é maligna. Nos demais evangelhos as associações feitas às trevas são atribuídas a fenômenos tidos como negativos ou diretamente ao próprio Diabo.

Porém alguns outros pontos de vista surgem com o tarô:
O Diabo sempre foi mal compreendido. Esotericamente ele representa um potencial existente na própria divindade. Por uma questão de lógica, se Deus é onipresente, o Diabo tem que ser parte de sua criação” (URBAN; 1997, Pág. 71)    

O que permite pensar em Deus e o Diabo como sendo uma separação da mesma divindade, ou como figuras de natureza opostas que completam a totalidade divina. Na carta do tarô a imagem do “Diabo segura uma tocha na mão esquerda, símbolo do fogo divino da consciência que ele entrega aos homens” (URBAN; Paulo, pág. 71). O que libertou o homem de sua condição semelhante à de animais, em situação análoga:
Nas palavras de Campbell, Prometeus enganou Zeus tirando seu tesouro de fogo, tornou-se o portador desse tesouro para a humanidade e libertou uma energia nova e vital no Universo. (HIGGINBOTHAM; HIGGINBOTHAM, 2003 pág.127).

Assim como na história do Jardim do Éden em Gênesis na bíblia o Diabo ínsita Eva e Adão a comerem do Fruto Proibido e assim tomam consciência de que estão nus “como Javé diz sobre o seu dom à outra divindade não-identificada: ‘Veja! O homem tornou-se como um de nós, conhecendo o que é bom e o que é mau’ Gênesis 3:22” (HIGGINBOTHAM; Joyce, HIGGINBOTHAM River, 2003 pág. 127) e tanto Prometeus quanto o Diabo foram punidos severamente por presentearem a humanidade com algo divino. Sendo este um ponto de vista que implicaria num Diabo com propriedades de herói e mártir.

Entretanto, o papel que o Diabo exerce não se restringe apenas a uma batalha cósmica contra Deus, mas também é a representação de tudo aquilo ao que vai de oposto à fé Judaico-Cristã-Muçulmana no mundo material, quando “seus inimigos, não mais pessoas, então, mas demônios que devem ser destruídos”  HIGGINBOTHAM; Joyce, HIGGINBOTHAM River, 2003 pág.113). Tal forma de pensamento pode sugerir a origem de alguns fatos ao longo da história da humanidade, como a caça às bruxas e o anti-semitismo, neste segundo caso, podemos apontar na bíblia “em João (8:44) Jesus denomina os judeus de ‘filhos do demônio'” (HIGGINBOTHAM; Joyce, HIGGINBOTHAM River, 2003 pág.114), mas não apenas aos estrangeiros que o Diabo se relaciona,o escritor cristão Irineu (180 d.C) em seu livro Contra Heresias vol.1 descreve que um herege é um companheiro cristão cujos pontos de vista diferem do consenso e é por isso um agente de Satã.

Por fim, nota-se que o Diabo é, na esfera Simbólica, aquele que transgride e se opõe às normas, o espírito da revolução e do caos, da sexualidade e da noite, o medo desconhecido entre inúmeras outras coisas as quais lhe são atribuídas, aquele que instiga aos homens a questionarem e se oporem às normas e as regras.
Metódo:

O metodo escolhido foi o de analise qualitativa de imagem, como este trabalho se trata de uma analise dos elementos Simbólicos presentes no disco Reign in Blood da banda Slayer relacionando-o com a tribo urbana Headbanger e o Símbolo do Diabo através da Psicologia Analítica. Segundo Barros (2007, pág. 84) neste tipo de pesquisa, não há interferência do pesquisador, ou seja, ele apenas descreve o objeto da pesquisa, procurando descobrir a frequência com que um fenômeno ocorre, sua natureza, características, causas, relações e conexões com outros fenômenos. Portanto a analise a partir da capa do disco, ou seja, através da semiótica de uma imagem parada, “provê ao analista com um conjunto de instrumentais para uma abordagem sistemática dos sistemas de signos, a fim de descobrir como eles produzem sentido” (BAUER; Martin W. , GASKELL; George, 2002, pág. 319).

Os elementos retirados da capa do disco serão analisados de acordo com os pressupostos da Psicologia Analítica, no qual “o processo de análise pode ser descrito como uma dissecação seguida por uma articulação, ou reconstrução da imagem semanticizada” (BAUER; Martin W., GASKELL; George, 2002, pág. 325), abordado a partir da análise estrutural como associação de significante e significado tornando explicito os conhecimentos culturais necessários para que o leitor compreenda a imagem (BAUER; GASKELL, 2002).    
Analise de Dados:

O objetivo aqui se trata de uma análise de elementos Simbólicos intermediada pela Psicologia Analítica, entre o Símbolo do Diabo no universo do disco Reign In Blood do Slayer e o universo cultural Headbanger. Embora a presença da figura do Diabo se manifeste de diversas formas na cultura Heavy Metal.

O disco é datado originalmente do ano 1986. Quando a banda era formada pelo vocalista e baixista Tom Araya, os guitarristas Kerry King e Jeff Hanneman e o baterista Dave Lombardo, a mesma formação atual, enquanto a arte da capa foi feita pelo artista plástico Larry W. Carroll (FERRIS. 2008). O disco foi submetido a inúmeras críticas, por conta de seus conteúdos controversos, que para uma parte da crítica era uma ofensa enquanto que para outros se tratava de um sucesso mundial (DOME, 1991), “o Slayer se converteu no grupo mais representativo do Metal se excluir o Metallica” (DOME; Malcom, 1991, pág. 40).


Segundo Tom Araya o disco trata sobre uma história de horror de como o Mal, Satã, planeja dominar o mundo espalhando o sangue de seus inimigos e traidores, deixando os empalados pelas estalactites de sua caverna para que o sangue de seus corpos goteje e lhe dêem forma e poder, assim o Satã retornará para reinar no sangue (GALLACHER, 1988). 

A arte desenhada por Carroll é no mínimo provocativa, pois apresenta um ambiente denso no qual, figuras empaladas se espalham pela parede - que trás um aspecto que pode lembrar a de uma caverna – junto com cabeças decepadas decorando o pano de fundo, enquanto mais destacadamente aparece uma figura centralizada sentada sobre uma liteira. Com a acomodação da liteira que sugere um trono, o lugar é ocupado por uma figura masculina com cabeça de Bode e braço direito erguido e uma lança com a base no braço da cadeira trespassando uma cabeça decepada. A liteira é carregada por figuras que sugerem ser homens degenerados e demônios através de um rio de sangue, com cabeças flutuando sobre o mesmo. O que faria jus ao titulo do disco “Reinado de Sangue” em sua tradução literal.

Tão provocativa e controversa quanto à imagem de capa, são os conteúdos das musicas do disco, que abordam assuntos como o nazista Joseph Mengele, rituais satânicos, assassinos seriais e criticas ácidas ao cristianismo.

Para os fãs de Metal este disco é tido como uma das obras primas do gênero musical como um todo, mesmo com seus temas sombrios e controversos, possui fãs no mundo islâmico e israelense(DUNN, McFAYDEN. 2008). Estes ouvem o disco e não julgam a música Angel of Death como uma manifestação nazista, embora alguns digam que a música seja perturbadora, mesmo tratando sobre o tema do holocausto e um dos seus maiores propagadores, o já citado Joseph Mengele (DUNN, McFAYDEN. 2008). Também não há nenhuma evidência de que os fãs ou os músicos do Slayer de uma maneira especial sejam adeptos ao nazismo, assassinos ou mesmo anticristos, o universo denso e sombrio dessas temáticas certamente atrai os fãs ao mesmo tempo em que repelem os não fãs.

Ampliando os significados de todas as temáticas, aliadas a figura central da imagem, pode-se ver que os temas do disco tratam de grandes parias das sociedades ao redor do mundo: os opositores. Aqueles que vivem no submundo, cercando a sociedade vigente, muitas vezes surgindo sem prévia autorização ou quando menos se espera, mas sem o direito de pertencer a ela e sempre que possível retornando ao seu estado obscuro. Já que a Sombra é o Arquétipo do oposto a Consciência assim se redesenha a batalha cósmica dentro do indivíduo, as projeções da nossa própria divisão interior que não podem ser destituídos dos desejosindividuais (WHITMONT; Edward C. 1998, pág. 151), pode-se inferir também aspectos da Sombra podem transitar entre os conteúdos Conscientes, ou aspectos da Persona destes indivíduos.



Em termos de visualização, não se pode ter uma tradução literal em comportamento e psique de cada Headbanger, pois pouco ou nada pode se inferir da história de vida individual de cada um, mas alguns dados podem ser visualizados em termos coletivos. Para ilustrar, a força psíquica em seu aspecto Simbólico dos significados do Diabo e das temáticas ao redor deste disco, o vocalista e baixista do Slayer, Tom Araya, se declara abertamente católico no documentário Metal: Headbangers Journey (DUNN, McFADYEN. 2005) e pela aceitação do grupo entre a comunidade Headbanger este fator é irrelevante o que torna bastante interessante a diferenciação entre o Consciente e Inconsciente.

Quanto à ilustração da capa, Carroll afirma no livro Reign in Blood de D. X. Ferris (2008) que a figura central não é nenhum demônio especifico. Porém a cabeça de Bode e a ligação com o Diabo se tornam inevitável, assim como a figura com o acessório papal, segundo o autor do mesmo livro, parecem evocar as figuras de Thomas Moore [19] e São Sebastião [20]. Mas não se trata de fato das figuras históricas, mas sim de figuras Arquétipicas, pois não houve intenção consciente alguma de desenhar os originais, como conta o livro (FERRIS, 2008), ainda segundo o mesmo, Carroll afirma quepara desenhar a arte da capa recebera apenas uma fita de rádio. Enquanto as figuras que carregam a liteira parecem estar em um aspecto miserável e subumano, o Diabo, em seu trono, tem seu braço erguido como os gestos de saudação utilizados pelos imperadores romanos e por outros líderes ao longo da história, inclusive Hitler e Mussolini. O que poderia sugerir que, a figura central, esta sendo carregada pelos seus subjugados, em seu trono real e saúda aqueles que fazem parte de seu reinado, ou aqueles que como ele - são líderes.

Porém existem aspectos da Sombra a serem discutidos e que se torna de analogia interessante.
A Sombra é a experiência Arquétipica da “outra pessoa” que, em sua estranheza, é sempre suspeita. É o anseio Arquétipico do Bode expiatório, de alguém para culpar e de atacar a fim de se obter justificativa e absolvição; é a experiência Arquétipica do inimigo, a experiência da culpabilidade que se adere à outra pessoa, já que temos a ilusão de compreender a nós mesmos e de já ter lidado adequadamente com os nossos problemas. Em outras palavras, à medida que tenho de ser correto e bom, ele, ela ou eles se tornam os portadores do mal que não consigo reconhecer em mim mesmo (WHITMONT, Edward C., 1998 pág. 146).

Quando o Diabo assume o papel de opositor, pode-se compreender que ele em relação a Deus faz a experiência Arquétipica “da outra” pessoa, pois se Deus é onipresente, também criou o Diabo (URBAN; Paulo, pág. 71). Ainda em tempo, pode-se ilustrar esse aspecto da Sombra nas atitudes de Javé com relação à Jó no Velho Testamento.
Sua disposição em abandonar Jó à atividade criminosa de Satanás revela que ele duvida de Jó, justamente por sua tendência de projetar sua infidelidade num bode expiatório. Suspeita-se, com efeito, que Ele se prepara para afrouxar os laços matrimoniais com Israel, mas dissimulando a si mesmo tal intenção. A infidelidade que ele pressente, não sabe bem onde, o leva a descobrir o infiel com a ajuda de Satanás, e o descobre na pessoa mais fiel dentre os fiéis que então é submetido a uma provação dolorosa. Javé nem se quer tem mais certeza de sua própria fidelidade (JUNG, Carl G., 2001 pág. 146).

Com isto, se acredita que naquele período, Javé havia se entregado a sua Sombra, ou seja, o Diabo. Porém este não parece ser estritamente o caso dos Headbangers que antes incorporam  simbolicamente aspectos que os identificaria com o Diabo, mas não com Javé. O que se pode colocar como sendo uma medida consciente similar a da Persona. Muito embora se trouxer o padrão estético social padrão da cultura Judaico-Cristã, os Headbangers voltariam ao desígnio de Sombra, já que se colocam num modo as avessas, o que não torna muito clara até onde se estenderia uma possível vivencia da Sombra por estes indivíduos.

Esta pode ser uma das possíveis leituras da cena central da arte. Mas estaria ainda incompleta, portanto a ampliando, o Bode, como já demonstrado aqui anteriormente, pode ser tido como um Símbolo do masculino e da virilidade. O que reflete o fato de haver uma hegemonia masculina dos fãs do gênero musical, embora as mulheres também façam parte, sem restrições, torna-se interessante através de analogias dos significados possíveis da Anima dentro do tema, “pois numa breve caracterização, a Anima representa o Arquétipo Yin [21] no homem, o feminino que há dentro dele” (WHITMONT, Edward C., 1998, pág. 165). Pois a própria figura da capa se assemelha também a Baphomet [22], embora não possua o tronco feminino da imagem original.

Para formar uma analogia mais completa entre a figura da capa com os aspectos do Arquétipo da anima que compartilham discrições similares com as ligadas ao símbolo do Diabo e o Bode.
O Arquétipo da Anima representa os elementos impulsivos à vida como vida, como um fenômeno natural, não premeditado, espontâneo, a vida dos instintos, à vida da carne, a vida da concretude, da Terra, da emotividade, dirigida para as pessoas e as coisas (WHITMONT, Edward C., 1998 pág. 186).

A figura do Diabo na capa de discos de Metal aliada a hegemonia masculina entre os Headbangers pode sugerir uma vivência inconsciente dos aspectos ligados ao feminino por estes indivíduos, pois antes de se tratar de algo racional é de cunho emocional. Para reforçar ainda mais esta possibilidade, podemos inferir o pensamento ocidental bíblico, que descreve o Diabo como fonte do caos e de tudo que se deve temer. Em analogia com os conteúdos das letras das músicas - deste caso especifico, pode ser uma apresentação Arquétipica da Anima, pois:
A Anima consiste nos anseios inconscientes do homem, seus estados de espírito, aspirações emocionais, ansiedades, medos, inflações e depressões, assim como seu potencial de emoção e relacionamento. (WHITMONT, Edward C., 1998 pág. 168)

Relacionando a fala de Whitmont com os conteúdos dos discos de Heavy Metal (JANOTTI, 2004), que também se expressam no disco Reign in Blood, pode se inferir sobre as questões que envolvem o Inconsciente grupal dos Headbangers de uma forma macroabrangente ao compartilharem o espaço Underground, assim como os motivos que levam às pessoas a se firmarem em determinados grupos.
O ser humano sempre formou grupos que possibilitassem vivências de transformação coletiva, frequentemente sob a forma de estados extáticos. A identificação regressiva com estados da consciência inferiores e mais primitivos é sempre ligada um maior sentido de vida, onde o efeito vivificante das identificações regressivas com os ancestrais meio teriomórficos da idade da Pedra (JUNG; Carl G. 2002, pág. 131).

Enquanto a individualidade separada é personificada como um dos elementos ligados ao masculino, a conexão de comunidade e grupo é vivenciada e personificada como entidade feminina (WHITMONT, 1998. Pág. 168). Para os Headbangers tal experiência, vivenciada no cenário Underground, que, dentro da multidão de semelhantes sentem uma grande e maravilhosa unidade tornando-se heróis exaltados pelo grupo (JUNG, 2002). Então quando esta experiência se encerra:
Voltando depois a nós mesmos, descobrimos que meu nome civil é este ou aquele, que moro nesta ou naquela rua, no terceiro andar e que aquela história, no fundo, foi muito prazerosa; e esperamos amanhã que ela se repita a fim de que eu possa sentir-me de novo como um povo inteiro, o que é bem melhor do que ser o cidadão x ou y (JUNG, Carl G. 2002, pág. 131).

Este fator foi ilustrado algumas vezes no documentário Metal: A Headbangers Journey (DUNN, McFADYEN. 2005) quando mostra passagens no festival anual Wacken Open Air, no qual são realizados apenas shows de Metal onde bandas e fãs do gênero de todo o mundo se confraternizam durante alguns dias, e que se consolidou como evento que já existe há 20 anos. Não apenas isto, mas ainda no documentário supracitado, há descrições sobre roupas e indumentárias gerais básicas entre os Headbangers e que ao mesmo tempo se espalhou pelo mundo como mostra o documentário Global Metal (DUNN, McFADYEN. 2008) o que da impressão de uma irmandade, de um culto ou de uniforme de soldados entre outras coisas, que identifica os Headbangers entre si. Sendo, provavelmente, o principal elemento as vestes pretas, pois este seria um traço da cultura Headbanger mais visível “a olho nu” para qualquer leigo.

O que torna apropriado que exista uma ampliação dos significados da cor para que haja uma contextualização e significação. Segundo Herder Lexikon (2007) corresponde ao aspecto do indiferente e do abissal, designado a escuridão, caos primordial e morte, a cor do luto e da dor resignada, cor da noite e da cadeia simbólica da mãe, da fecundidade e mistério. A socióloga Deena Weinstein diz que, na cultura ocidental a cor preta representa perigo, maldade, mas também a liberdade (DUNN, McFADYEN. 2005). Invariavelmente retornam algumas representações Arquétipicas da Anima colocadas anteriormente conectando os fragmentos que ligam à cultura Headbanger e o Símbolo do Diabo, se utilizar de suas representações que o ligam aos aspectos femininos. Porém, segundo Deena Weinstein (DUNN, McFADYEN. 2005) liberdade na cultura ocidental é atribuído ao gênero masculino, por tanto pode ser atribuído à expressão Arquétipica do Animus.

Curiosamente, sobre a questão “liberdade” foi tratada diversas vezes durante os documentários Metal: A Headbangers Journey (DUNN, McFADYEN. 2005) e Global Metal (DUNN, McFADYEN. 2008). No primeiro documentário dos dois citados, o guitarrista Kerry King afirma que nas musicas do Slayer ataca a religião por ser um tipo de lavagem cerebral aceitada nos Estados Unidos assim como no resto do mundo. O que nesta concepção, pode-se afirmar que há a intenção de atacar aqueles que negam a liberdade, embora se passe através de uma idéia pessoal, a representatividade da banda sugere que possivelmente essa idéia ultrapasse a barreira individual (DOME, 1991).

Enquanto no Global Metal (DUNN, McFADYEN. 2008), músicos e fãs expressam a idéia de liberdade através do Heavy Metal a partir de seus contextos sociais e, ou históricos em paises como Brasil, Índia, Indonésia e China. Por outro lado o vocalista da banda de Black Metal Gorgoroth Gaahl, quando perguntado sobre as idéias primárias que cercam os conteúdos da música da banda, ele responde: Satã, e quando seu interlocutor pergunta sobre o que representa Satã, Gaahl responde: a liberdade (DUNN, McFADYEN. 2005). O que endossaria a questão do Animus também presente na figura do Diabo. Quando se volta à figura do Bode relacionada ao Diabo, há uma forte relação entre o masculino e feminino, pois “o Diabo é associado à virilidade e, portanto, aos desejos carnais” (CHARBONNEAU-LASSAY, Louis. 1997 pág. 181) e “o Bode simboliza a pujança genésica, a força vital, a libido, a fecundidade” (CHEVALIER; Jean, GHEERBRANT; Alain, 1995 pág. 134) poderiam facilmente ser ligados apenas ao Animus. Porém quando na descrição das representações da Anima (WHITMONT, 1998), a associação do Diabo e o Bode com as trevas, o escuro, o noturno, a fecundidade e à vida da carne, por tanto há aspectos que podem transformar a figura do Diabo como andrógina, quando não se pode especificar seu gênero exato. Assim como é a imagem do já citado Baphomet.

Retornando a imagem da capa do disco, existe outro ponto a ser esmiuçado que ainda não foi abordado até o momento, o que dá nome ao disco Reign in Blood – o sangue. Por tanto, sobre o sangue segundo Manfred Lurker (1997) muitos povos o consideram como sede da alma e da vida, o sangue que sai do corpo provoca horror, pois significa perda da força vital, o simbolismo da vida e da morte. Novamente aspectos que fazem transitar entre os aspectos da Anima.  Sugerindo que experiência dos Headbangers com o Underground e o Heavy Metal, seja também uma experiência de forte conexão com a vitalidade, principalmente quando referimos ao que se refere às origens que compõem o som Heavy Metal, assim como o Diabo (CHEVALIER; GHEERBRANT, 1995). A música sofreu influências do blues norte americano e como este era o som dos negros oprimidos, o Heavy Metal surgiu entre a classe operaria que necessitava extravasar suas energias, ou precisava mostrar força de alguma forma (DUNN, McFADYEN. 2005) e a necessidade de liberdade.  

Os Headbangers tem a possibilidade de vivenciar através deste Símbolo, algo que não se atém ao racional puramente, pois não se trata do conteúdo unicamente religioso (SILVEIRA, 2003), mas sim de uma amplitude de significados que se aproxima da dinâmica do Inconsciente (JUNG, 2000) dos sujeitos que compartilham esta vivência. O que pode corroborar novamente com os aspectos da Anima, pois se trata da “conexão instintiva com outras pessoas e a comunidade ou grupo que as contém” (WHITMONT, Edward C. 1998. Pág. 168). Mas, por fim, o real motivo por de trás de uma provável experiência numinosa dos indivíduos que partilham este espaço, envolvidos pela música Heavy Metal e o Underground estes indivíduos encontram com algo de obscuro em si mesmos que podem partilhar com outros e em seguida continuar dando sentido a suas vidas cotidianas, saindo do subsolo onde todos são iguais, para a luz, onde todos são diferentes.
Considerações Finais

A vivência através do Símbolo do Diabo na cultura Headbanger a partir da análise baseada no disco Reign In Blood do Slayer, leva a crer que na vivência com o obscuro e denso Simbólico, pode-se então retornar ao mundo da superfície, com a certeza de que faz parte de algo maior e preparado para o cotidiano e seus horrores reais. Como expressa um músico de Heavy Metal israelense acerca das suas músicas que tratam de demônios, ele diz não temer sair na rua apenas por medo de ser atacado por criaturas do gênero, mas sim de alguém portar bombas e explodi-las próximo a ele apenas porque o odeia (DUNN, McFADYEN. 2008).

Em outros momentos, o próprio Tom Araya, após alegar seu segmento religioso também coloca que a arte pode ser um reflexo da sociedade e o Slayer o faz com a parte obscura, mas o mal está em todos e o levamos dentro de nós (DUNN, McFADYEN. 2005). A declaração do músico além de elucidar a perspectiva do Simbólico por trás da música, assim como o possível caminho que encontrou para chegar a sua Sombra, embora neste contexto o encontro individual possa se perder e se assuma a Sombra de outros indivíduos (JUNG, 2004). O que por um lado faz o individuo não ser apenas um solitário, mas alguém que faz parte de algo muito maior, a unidade com um povo e ser um herói (JUNG, 2002).

Por fim, a vivência através do Símbolo do Diabo sugere uma possibilidade de força vital e de expiação para se chegar à liberdade. Assim como um encontro com a Anima e da Sombra, e de uma nova forma de encarar negativos para que se possa enfrentá-los fora do universo Simbólico Underground. O disco Reign in Blood é um recorte deste cenário que se expande através do Heavy Metal e trás este lado opositor Arquétipico, de um grupo que se põe ao avesso da sociedade, com sua estética e sua forma de se expressar para unidos criarem sua forma de experimentar a subversão.